Ativista do Greenpeace Ana Paula Maciel desembarcou no aeroporto de Guarulhos e segue em direção a Porto Alegre. © Greenpeace
Foram cem dias de apreensão e incerteza desde que forças policiais russas fortemente armadas ocuparam o navio Arctic Sunrise em águas internacionais e prenderam sua tripulação após um protesto pacífico contra a exploração de petróleo no Ártico. Acusados primeiro de pirataria, e depois de vandalismo, os ativistas do Greenpeace correram o risco de passar até 15 anos na prisão.
Essa história, que motivou mais de 800 protestos em 46 países, mobilizou diplomatas, políticos e chefes de Estado – até a presidente Dilma se pronunciou – pela libertação do grupo que ficou conhecido como os 30 do Ártico, chega hoje a seu capítulo mais esperado. Após anistia do governo russo, e longas 33 horas de viagem, a brasileira Ana Paula Maciel, 31, aterrissou às 11h em Porto Alegre, sua cidade natal.
Na chegada ao aeroporto, Ana Paula mostrou que continua ativista em tempo integral. Diante de um saguão lotado de jornalistas, sua primeira atitude foi estender um banner para lembra a plateia o que a motivou a embarcar em um navio do Greenpeace rumo ao norte do planeta: “Salve o Ártico”, dizia a mensagem em suas mãos.
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Seu momento “protesto” só cedeu lugar ao momento família. O abraço na mãe já havia ocorrido um mês antes, em São Petersburgo. Mas, desta vez, ele foi mais sereno, emocionado, com a certeza de que Ana está de volta a casa e que o filme de terror acabou com final feliz – ou quase.
“Foram três meses de aterradora insegurança, mas agora estou de volta ao ninho mais acolhedor que uma pessoa pode ter: sua família”, declarou Ana Paula. Ela lamenta, entretanto, que ainda reste um último capítulo para encerrar a história. “Minha segunda casa, o navio Arctic Sunrise, continua preso em Murmansk. Não conseguirei descansar até que o tenhamos de volta.”
Apesar da anistia ao suposto crime de vandalismo oferecida pelo Kremlin e de uma ordem do Tribunal Internacional do Mar dando razão ao pedido de arbitragem do governo holandês ao solicitar a devolução do Arctic Sunrise, o destino do navio continua incerto. Não é novidade, afinal o processo foi confuso desde o início.
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“Tudo o que aconteceu foi surreal”, avalia Ana Paula. “Esperamos que nenhum outro país tente calar jamais a liberdade de expressão e o protesto pacífico da forma como a Rússia fez.”
Após a sabatina da imprensa, Ana Paula já dava sinais de esgotamento e de desejo de desfrutar o quanto antes da intimidade da família. Além de planejar a festa de Réveillon, ela tem muito assunto para colocar em dia com a mãe Rosangela, a irmã Telma, e a sobrinha Alessandra. Agora Ana Paula sabe como ninguém que, algumas vezes, os desejos mais banais são os mais difíceis de realizar. Mas, antes de partir, ela fez questão reconhecer todo o carinho que recebeu das pessoas no Brasil.
“Estive sempre entre amigos, mas esse episódio deixou claro que a família Greenpeace não para de crescer. É a família que acredita na nossa mensagem de proteção ao planeta, de paz e de necessidade de mudar de rumo por um futuro melhor. Só tenho a agradecer a todos que nos apoiaram e clamaram pela nossa liberdade. Mas essa luta está apenas começando”, conclui Ana Paula.