sábado, 10 de dezembro de 2016

Caçador de nevoeiro: conheça a história de Abel Cruz, que captura água do céu para comunidades pobres de Lima

ORDEM E PROGRESSO .

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Caçador de nevoeiro: conheça a história de Abel Cruz, que captura água do céu para comunidades pobres de Lima

Situada entre o Oceano Pacífico e as montanhas da cordilheira andina, Lima foi construída sobre terrenos arenosos. O deserto sobre o qual a capital do Peru se estende, só é menor ao de outra capital do mundo: Cairo, no Egito.
Para os peruanos, chuva é uma benção. A média de precipitação anual é baixíssima. Com o aquecimento global, os moradores dali rezam diariamente para ter água. Muitos nem a têm, são aqueles que moram em zonas pobres da cidade, onde esgoto tratado, saneamento e água potável são direitos que esta gente não possui.
Apesar de não ter muita água, Lima tem outra coisa em abundância: neblina! Alguns chegam a chamá-la de “oceanos do céu”. Diante deste potencial inexplorado – neblina e ventos em condições ideais -,  Abel Cruz decidiu agir. Depois de viver anos sem ter este direito básico, se cansou de esperar que o governo fizesse alguma coisa.
O peruano criou um sistema de captação de água da neblina ao sul da capital, no assentamento de Villa María del Triunfo, onde vivem cerca de 500 famílias, e onde a rede de distribuição ainda não chegou.
Lá, Cruz instalou imensos painéis feitos com redes de naylon, que capturam a água condensada, suspensa no ar. Depois, as pequenas gotas caem pela rede e são levadas por canaletas até um reservatório maior. Através deste processo, diariamente estão sendo estocados de 200 a 400 litros de água.
As chamadas atrapanieblas, se traduzido para o Português, algo como apanhadoras ou caçadoras de neblina, mudaram a rotina de 6.500 pessoas do assentamento. Apesar de não ser potável (os moradores do local ainda  precisam pagar caminhões-pipas para comprar água limpa), agora eles usam o “oceano do céu” para as demais necessidades do dia a dia e para uma novidade importantíssima, a irrigação da horta. Com a água trazida por Abel Cruz, as famílias estão plantando hortaliças, ervas e frutas, o que ajuda a diminuir os gastos com alimentação.
O processo de extrair gotas de água do ar não é inédito, já foi utilizado anteriormente em outros tipos de invenções. Mas nem por isso, o movimento Peruanos Sin Agua, fundado por Cruz, deixa de ser inspirador.
No mundo todo, uma em cada dez pessoas não têm acesso à água potável. Só em Lima, estima-se que 1 milhão de habitantes não possuem água na torneira de casa. A solução encontrada por este empreendedor do bem pode ser temporária, mas é eficaz e um alívio na vida destes moradores de áreas pobres de Lima e pode sim, ser reproduzida, em outros lugares do mundo, que tenham as mesmas condições climáticas do que a capital peruana.
Caçador de nevoeiro: conheça a história de Abel Cruz, que captura água para comunidades pobres de Lima
O que antes era deserto ganhou a cor verde dos alimentos plantados na horta
O empreendedorismo de Cruz já rendeu ao projeto o Prêmio Nacional Ambiental Antonio Brack Egg, em 2015, e convites para palestrar em diversos países. Seu trabalho ganhou espaço em mídias do mundo todo.
Agora o Peruanos Sin Agua quer levar água para mais peruanos. E encontrar uma maneira de fazer com que ela possa ser tratada e consumida também por eles.
No vídeo abaixo, você assite a reportagem produzida pela BBC, que mostra o trabalho extraordinário e inspirador de Abel Cruz:

Fotos: domínio público/pixabay (abertura) e divulgação Peruanos sin Agua
Jornalista, já passou por rádio, TV, revista e internet. Foi editora de jornalismo da Rede Globo, em Curitiba, onde trabalhou durante seis anos. Entre 2007 e 2011, morou em Zurique, na Suíça, de onde colaborou para diversas publicações brasileiras, entre elas, Exame, Claudia, Elle, Info, Superinteressante e Planeta Sustentável. Desde 2008 , escreve sobre temas como mudanças climáticas, energias renováveis e meio ambiente. Atualmente vive em Londres.

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