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Delator da Odebrecht relata pagamentos a Padilha por apoio do PMDB na Câmara
Cláudio Melo Filho falou que Eliseu Padilha concentrava arrecadações financeiras em troca da aprovação de projetos de interesse da empresa.
Na negociação de acordo de delação premiada com os procuradores da Lava Jato, Cláudio Melo Filho, ex-diretor de relações institucionais da Odebrecht, afirma que o núcleo político do PMDB organizado na Câmara era historicamente liderado por Michel Temer, quando ele era deputado federal. Segundo Cláudio, os políticos pediam pagamentos em troca de apoio a projetos de interesse da construtora.
Também faziam parte do núcleo Eliseu Padilha, atual ministro da Casa Civil, Moreira Franco, secretário de Parceiras e Investimentos, e o ex-ministro da Secretaria de Governo de Temer, Geddel Vieira Lima. Todos eles negam as acusações feitas por Cláudio na delação. (veja abaixo)
Segundo o ex-diretor da Odebrecht, Temer era o mais influente do grupo, mas não agia diretamente. Eliseu Padilha, conhecido pelo codinome “primo”, era quem centralizava as negociações e as arrecadações financeiras. Nesse trabalho, contava também com Geddel Vieira Lima, de codinome "babel".
Padilha e Geddel, com a colaboração de Moreira Franco, que tinha o codinome “angorá”, ajudavam na aprovação de demandas da Odebrecht, no então governo Dilma Rousseff ou na Câmara. Os políticos usavam sua influência para defender os interesses da empresa no setor de aviação civil, aeroportos e na votação de medidas provisórias e projetos, afirmou Cláudio Melo Filho. Em troca, eram feitas doações legais ou de caixa dois de campanha.
Cláudio disse que, ao longo dos anos, a pessoa destacada do grupo para falar com os agentes privados e centralizar as arrecadações financeiras era Eliseu Padilha. Ele atuaria como preposto de Michel Temer, segundo o delator, e deixava claro que muitas vezes falava em nome dele. Padilha concentraria as arrecadações financeiras do núcleo político do PMDB para posteriores repasses internos.
O ex-diretor da Odebrecht disse ainda que Geddel Vieira Lima também possui influência dentro do grupo, interagindo com agentes privados para atender seus pleitos em troca de pagamentos. Geddel foi citado 67 vezes no depoimento de Cláudio Melo Filho.
O ex-diretor afirmou que, no aniversário de 50 anos de Geddel, em março de 2009, a Odebrecht enviou de presente um relógio Patek-Philippe, modelo Calatrava, que foi junto com um cartão assinado por Emilio Odebrecht, Marcelo Odebrecht e Cláudio Melo Filho.
Cláudio anexou ao depoimento uma foto do relógio. Ele falou ainda das reclamações de Geddel. Segundo o delator, apesar dos pagamentos frequentes, Geddel sempre disse que a empresa poderia ser mais generosa com ele, e sempre dizia que se considerava um “amigo da empresa” e que isso precisava ser mais bem refletido financeiramente.
Pagamentos
No ano de 2006, a pedido de Geddel, foram realizados pagamentos por meio de contribuições oficiais e também pagamentos não declarados via caixa dois, afirmou o ex-diretor da empresa. Os pagamentos realizados em 2006 teriam atingido o total de R$ 1 milhão aproximadamente. Durante a disputa de Geddel Vieira Lima ao cargo de governador da Bahia na campanha de 2010, Cláudio disse que solicitou e houve um pagamento entre R$ 1 milhão e 1,5 milhão a pedido do político.
O ex-diretor da Odebrecht falou aos investigadores que conhece Moreira Franco há muitos anos e que possui parentesco distante com ele. Em algumas oportunidades se reuniu com Moreira Franco, quando ele era secretário da Aviação Civil, para tratar sobre temas do setor.
Cláudio relatou uma lista de discussões sobre modelos de concessão de aeroportos, uma delas sobre o novo aeroporto de São Paulo (Nasp), cuja implementação, se ocorresse, poderia prejudicar a concessão do Galeão. Segundo ele, houve pressões por todos os lados. Cláudio diz que teve a impressão de que Moreira Franco jogou com isso e deixou que o fato fosse resolvido pelo andar do tempo, de forma que ele se saísse bem com todos os envolvidos.
Na delação, o ex-diretor diz acreditar que há uma ação orquestrada entre Moreira Franco e Eliseu Padilha para a captação de recursos para o seu grupo do PMDB, pois Moreira Franco solicitou a Cláudio um apoio de contribuição financeira, mas transferiu para Eliseu Padilha a responsabilidade pelo recebimento do apoio financeiro. Padilha foi citado no depoimento 45 vezes, e Moreira, 33.
O deputado cassado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que tinha o codinome caranguejo, ganhou recentemente bastante espaço no núcleo do partido, principalmente pelo poder que tinha para influenciar seus pares, o que era uma poderosa moeda de troca na hora de negociar a sua atuação como parlamentar, disse Cláudio no depoimento. O delator apresentou uma planilha com 17 pagamentos para o ex-presidente da Câmara, no total de R$ 10,5 milhões.
“Nas vezes em que me reuni com deputado Eduardo Cunha sobre assuntos legislativos de interesse da empresa, sabia que os pagamentos feitos me creditavam uma situação confortável e que seriam um elemento de atendimento às questões da Odebrecht, utilizei, portanto, esta força”, afirmou Cláudio na delação.
Uma das medidas provisórias que atenderam aos interesses da Odebrecht é a 613 e 2013. O texto do governo Dilma concedia desonerações tributárias aos produtores de etanol e à indústria química e petroquímica – áreas em que o grupo também atua. Parlamentares do PMDB ajudaram na aprovação da MP.
Em e-mail a Marcelo Odebrecht, Cláudio relata como estava a tramitação na Câmara e a ajuda que vinha recebendo de parlamentares, entre eles Cunha. Ele escreve: “Vencemos na comissão. Pancadaria geral!!! Perdi uma emenda que atendia a Agro, uma empresa da Odebrecht. Segue agora à tarde para plenário, devendo ser votada amanhã. Seguindo para o Senado. Ontem, o Carang [Cunha] chegou em minha casa às 0h45... Pode imaginar isso!!!?? Dona Cláudia quase me mata!!! Vamos em frente!!!"
O que dizem os políticos
Em nota divulgada pelo Palácio do Planalto, o presidente Michel Temer disse que repudia com veemência o que chamou de "falsas acusações" de Cláudio Melo Filho. Segundo Temer, as doações feitas pela construtora Odebrecht ao PMDB foram todas por transferência bancária e declaradas ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE). A nota diz ainda que não houve caixa dois nem entrega em dinheiro a pedido do presidente.
Eliseu Padilha afirmou que a acusação é “mentirosa” e que nunca tratou de arrecadação para deputados ou para que quer que seja. Moreira Franco também disse que a acusação é mentirosa e afirmou que jamais falou sobre política ou recursos para o PMDB com Cláudio Melo Filho.
Geddel disse que acha estranho o nome dele estar na delação, já que todas as doações da Odebrecht à campanha dele foram declaradas à Justiça Eleitoral.
A defesa de Eduardo Cunha disse que só vai se manifestar depois que tiver acesso à delação e que ela deveria ter seu sigilo resguardado.
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