domingo, 20 de novembro de 2016

MPF investiga relação de Cabral com transportadora de valores

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G1 globo.com


Edição do dia 19/11/2016
19/11/2016 22h23 - Atualizado em 19/11/2016 22h23

MPF investiga relação de Cabral com transportadora de valores

Transportadora de valores é suspeita de ser o caixa-forte da propina recebida pelo ex-governador Sérgio Cabral e assessores.

Uma transportadora de valores no Rio é suspeita de ser o caixa-forte da propina recebida pelo ex-governador Sérgio Cabral e assessores. A denúncia está no requerimento do Ministério Público Federal.
Em junho de 2015, um incêndio atingiu a sede de uma transportadora de valores na Zona Portuária do Rio. O Ministério Público Federal suspeita que o grupo de Sérgio Cabral tinha dinheiro guardado na Trans-Expert e parte teria sido queimada. O incidente foi mencionado numa troca de e-mails entre o ex-secretário de Obras de Sérgio Cabral, Hudson Braga, e um assessor.
Hudson Braga pede informações sobre o contrato com a Trans-Expert. O assessor responde que a transportadora ainda está dedicada a resolver o sinistro e que vai ligar para dar uma previsão.
Para os investigadores, o diálogo indica que, em virtude do incêndio, o grupo de Sérgio Cabral teria perdido dinheiro.
A Trans-Expert já tinha sido alvo de uma operação da Polícia Federal que investigava o uso da empresa como instituição financeira clandestina.
Durante as buscas, foram encontrados papéis que vinculam a empresa de transporte de valores ao ex-governador Sérgio Cabral. Anotações com o nome de Hudson Braga e a cópia da declaração de Imposto de Renda de Adriana Ancelmo, mulher de Sérgio Cabral.
“A suspeita é de que essa empresa de transporte e guarda de valores fosse utilizada como uma instituição financeira fraudulenta que guardava o dinheiro da organização criminosa amealhada através de corrupção e esses depósitos de uma empresa contratada por outra empresa de um investigado na verdade demonstra um fluxo do processo de lavagem de dinheiro”, diz o procurador da República Lauro Coelho Júnior.
Em dois anos, de 2013 a 2015, a Trans-Expert Vigilância e Transporte de Valores Ltda fez vários depósitos que somam mais de R$ 25 milhões na conta de uma outra empresa chamada Creações Opção Ltda. O endereço que aparece na nota fiscal é o mesmo de uma fábrica de roupas em Petrópolis, região serrana do Rio.
A Creações Opção, por sua vez, contratou serviços da empresa de consultoria Objetiva Gestão e Comunicação Estratégica Ltda, que é do ex-governador Sérgio Cabral. Em um ano, de 2015 a 2016, a Objetiva recebeu R$ 675 mil da Creações Opção.
O contrato e as notas fiscais não especificam o tipo de serviço prestado, o que, segundo os investigadores, é um indício de contrato de fachada.
O Ministério Público afirma que o dinheiro da propina percorria vários caminhos. Segundo os procuradores, a assessora de Sérgio Cabral, Sonia Ferreira Baptista, gerenciava a vida financeira e pessoal dele e de outros envolvidos no esquema.
Sonia Ferreira Baptista comprava bens no nome dela e mandava entregar nos endereços do ex-governador. O Ministério Público diz que gastos vultosos foram feitos para comprar portas, móveis, aquecedores.
O Ministério Público Federal suspeita que o escritório de advocacia de Adriana Ancelmo, mulher de Sérgio Cabral, também tenha sido usado para ocultar o pagamento de propinas para a organização criminosa. No período em que o marido esteve à frente do governo do estado do Rio, os negócios da então primeira-dama cresceram e muito.
Um relatório da Receita Federal afirma que o patrimônio da mulher de Sérgio Cabral cresceu dez vezes entre 2005 e 2015. Em 2005, a então primeira-dama declarou no Imposto de Renda R$ 1,9 milhão em bens; em 2014, tinha R$ 13,5 milhões; e no ano passado passou para R$ 21,7 milhões.
A Receita Federal não identificou incompatibilidade entre a movimentação financeira e os rendimentos declarados. Mas o que intriga o Ministério Público é o desempenho do escritório da ex-primeira-dama. Em 2005, a receita bruta do escritório era de R4 1,8 milhão; em 2007, quando Sérgio Cabral assumiu o governo do Rio, a receita do escritório passou para R$ 2,6 milhões; e em 2015, saltou para R$ 17 milhões.
Segundo a Procuradoria, foi um "crescimento vertiginoso durante os dois mandatos" de Sérgio Cabral.
Nós não conseguimos contato com as defesas de Sérgio Cabral e Adriana Ancelmo, de Hudson Braga, da empresa Trans-Expert e da Creações Opção. A ex-assessora de Sérgio Cabral, Snia Ferreira Baptista, desligou o telefone quando o nosso produtor se identificou.
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