Acusação e defesa fazem discurso emotivo e citam Deus

SÃO PAULO – O último dia de discurso da acusação e da defesa no processo de impeachment da presidente afastada Dilma Rousseff (PT) foi marcado por um tom menos técnico, mas mais político e emocional de ambos os lados.
A advogada Janaína Paschoal atribuiu a composição do processo a “Deus”, em resposta à fala da presidente Dilma de que Eduardo Cunha teria articulado a abertura do impeachment.
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“É intrigante que a defesa tenha criado um discurso de que o nosso processo seria um golpe porque foi iniciado pelo presidente da Câmara e que seria, portanto, ilegítimo, um desvio de finalidade”, afirmou Janaína. “Não fosse a decisão do presidente da Câmara, a defesa não teria nenhum argumento a sustentar aqui”
Ela afirmou que o pedido envolve mais do que os decretos e “questões contábeis” e que os senadores têm o direito de usar outros temas na denúncia. A advogada defendeu ainda que delações premiadas feitas após o pedido de impeachment sejam consideradas no processo.
No fim de seu depoimento, Janaína chorou ao pedir desculpas ao sofrimento que causou a Dilma e citar os netos da presidente afastada: “Eu peço que ela um dia entenda que eu fiz isso pensando também nos netos dela”, afirmou.
O jurista Miguel Reale Jr., companheiro de Janaína na equipe de acusação, defendeu que o impeachment seria a punição adequada para quem perdeu a confiança da sociedade.
Para ele, o Brasil sofreu, além de um descontrole das finanças públicas, um “aparelhamento de Estado baseado no favoritismo”. “O que houve de mais negativo que o ‘lulopetismo’ deixa como herança na história brasileira é a legitimação da esperteza malandra e é isso que o País não aguenta mais”, afirmou.
Reale Jr. afirmou que o crime de responsabilidade de Dilma foi ter usado os bancos públicos para financiar o Tesouro, e não pagar agricultores, e que a presidente mostrou saber detalhes dos pagamentos. E também disse que os decretos de crédito suplementar devem ser compatíveis com a meta e rigor – e não a que irá vigorar.
Na réplica, a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR) criticou o choro de Janaína. “Não estamos aqui para fazer uma encenação”. E disse que a acusação não teria feito um discurso técnico, mas político. “Lamentável a qualidade técnica e jurídica dos advogados”, afirmou.  A senadora petista também defendeu Dilma, dizendo que as pedaladas não são operações de crédito registradas e que o processo do impeachment é um conluio.
Em um discurso inflamado, advogado de defesa de Dilma Rousseff, José Eduardo Cardoso, afirmou que o impeachment será uma “pena de morte política” a uma “pessoa digna”. Já com um tom de quem trabalha com o cenário de condenação, Cardozo pediu a Deus que, se Dilma for condenada, o país peça desculpas a ela. "Se ela não estiver viva, que peçam desculpa a sua filha e netos.”
Cardozo voltou a dizer que o processo de impeachment é um golpe e pediu que os senadores aceitem a proposta de um plebiscito para novas eleições.
Além disso, defendeu que a presidente afastada sempre foi uma pessoa honesta e pediu que não sejam feitos ataques à dignidade dela. “Me dói, não como advogado, mas como ser humano. Não é justo falar o que falaram aqui de Dilma Rousseff. Querem condenar, condenem, mas não enxovalhem a honra de uma mulher digna”, afirmou. 
Depois de apresentar o seu último discurso de defesa, o ex-ministro da Justiça chorou ao comentar o discurso dos advogados de acusação. “Eu não condeno alguém dizendo que vou resolver o futuro dos netos. Não posso fazer isso. Isso não se faz. Mas cada um é dono da sua razão”, afirmou aos jornalistas. 
Veja a íntegra dos discursos dos três. 
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