Em clima tenso, senadores discutem relatório de Anastasia


  • 03/08/2016 13h22
  • Brasília
Karine Melo – Repórter da Agência Brasil

Brasília - O relator Antonio Anastasia e o presidente da Comissão do Impeachment, Raimundo Lira, durante sessão para discutir relatório de impeachment da presidenta afastada Dilma Rousseff (Antonio Cruz/Agência Brasil)
O relator Antonio Anastasia e o presidente da Comissão do Impeachment, Raimundo Lira, durante sessão para discutir relatório de impeachment da presidenta afastada Dilma Rousseff Antonio Cruz/Agência Brasil

A possibilidade de que o julgamento final do processo de impeachment contra a presidenta afastada Dilma Rousseff seja concluído ainda este mês elevou a temperatura na Comissão Especial do Senado, reunida nesta quarta-feira (3) para discutir o relatório do senador Antonio Anastasia (PSDB-MG), já apresentado e lido ontem.
A polêmica veio após a declaração do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), que ontem (3) defendeu o início do julgamento no dia 25 de agosto. Renan disse que, se for preciso, a Casa deverá trabalhar inclusive no fim de semana para agilizar a conclusão do processo.

Brasília - O relator Antonio Anastasia, o presidente da Comissão do Impeachment, Raimundo Lira, e a senadora Kátia Abreu durante reunião para discutir o relatório de Anastasia sobre o processo de impeachment de Di
O relator Antonio Anastasia, o presidente da Comissão do Impeachment, Raimundo Lira, e a senadora Kátia Abreu na reunião Antonio Cruz/Agência Brasil

A discussão ocorre porque senadores defensores e contrários ao impeachment não têm dúvidas de que o processo será levado até a fase final. A data do julgamento, no entanto, será marcada pelo presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Ricardo Lewandowski, que ainda não se manifestou oficialmente sobre o assunto, embora tenha adiantado que não pretende levar os debates para o fim de semana.
A sessão começou com muito bate-boca entre senadores favoráveis e contrários aoimpeachment. Os defensores de Dilma Rousseff acusam o presidente da Casa e a base de apoio de Michel Temer de pressionar, a pedido do presidente interino, um desfecho mais rápido para o processo. Já os apoiadores de Temer acusam os defensores da presidenta afastada de tentar procrastinar a conclusão do processo.
“Vamos fazer aquilo que é a expectativa da sociedade, do povo brasileiro: decidir este processo. Chega de procrastinação, chega de chicana, chega de manobra vil para tentar ganhar mais 24 horas, 48 horas de um processo que já está encerrado”, disse o líder do PSDB, senador Cássio Cunha Lima (PSDB-PB).
“O que está acontecendo é uma tentativa de impedir a defesa da presidenta Dilma. Eu não vejo porque isso. E 48 horas fazem diferença, sim, em um julgamento desta magnitude. E, principalmente, porque o número de votos para aprovar esse impeachment é um número de votos apertado. Nós sabemos disso. E que estão sendo disputados. Em 48 horas, temos condições de fazer argumentação, de ouvir mais testemunhas, de fazer o convencimento. Aliás, é um fato. Desde que iniciamos os trabalhos aqui, tivemos uma mudança, inclusive da população, em relação ao impeachment”, disse a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR).
TV Senado

Brasília - Comissão Especial do Impeachment do Senado discute o relatório do senador Antonio Anastasia sobre o processo de impeachment presidenta afastada Dilma Rousseff (Antonio Cruz/Agência Brasil)
Comissão Especial do Impeachment do SenadoAntonio Cruz/Agência Brasil

Antes do início discussão propriamente dita do relatório, apenas um fato uniu governistas e oposicionistas. Todos exigiam que a TV Senado, que transmitia a reunião da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), passasse a transmitir ao vivo a Comissão Especial do Impeachment. O senador Ronaldo Caiado (DEM - GO), primeiro inscrito para a discussão, chegou a dizer que preferia abrir mão de ser o primeiro e ir para o final da fila para ter a fala garantida pela transmissão de TV, ao final da reunião da CCJ.

Brasília - O advogado José Eduardo Cardozo e o relator Antonio Anastasia durante sessão da Comissão do Impeachment para discutir o relatório do pedido de impeachment de Dilma Rousseff (Antonio Cruz/Agência Brasil)
O advogado José Eduardo Cardozo e o relator Antonio Anastasia na sessão  para discutir o relatório do pedido de impeachment de Dilma Rousseff Antonio Cruz/Agência Brasil

Já Gleisi Hoffmann disse que os apelos para que a transmissão da reunião fosse feita ao vivo não tinha nada a ver com vaidade dos senadores e nem com “ vontade de aparecer”, mas, sim, com a preocupação de permitir que a população acompanhasse a discussão, devido a sua importância.
A TV Senado interrompeu a transmissão da CCJ para dar vez a Comissão do Impeachment.
Discussão
Por determinação do presidente do colegiado, Raimundo Lira (PMDB-PB), neste momento cada senador tem 10 minutos para se manifestar sobre o relatório de Anastasia. Ao fazerem suas defesas , eles aproveitam para adiantar como pretendem votar. Os advogados de defesa e acusação também terão 20 minutos cada para fazerem suas observações.
Amanhã (4), o colegiado volta a se reunir exclusivamente para votar o relatório. Devido ao jogo da seleção brasileira olímpica de futebol masculina contra a África do Sul, que vai ocorrer  amanhã, às 16h, no Estádio Nacional Mané Garrincha, em Brasília, a reunião que estava marcada para as 11h foi antecipada para as 9h.
Outro bate-boca
No início da tarde, os senadores Kátia Abreu (PMDB-TO) e José Medeiros (PSD-MT) protagonizaram mais um bate-boca. A confusão começou quando a senadora defendia a presidenta afastada. O senador José Medeiros reclamou do tempo dado a Kátia Abreu, que segundo ele, já teria ultrapassado os 10 minutos determinados para cada senador pelo presidente do colegiado.
“Esse moço tá com mania crônica, uma doença , de querer cortar minha palavra. O senhor quer me respeitar, meu senhor?”, reclamou Kátia Abreu.
“A senhora tem que respeitar os outros. A senhora não chega aqui e pensa que vai mandar nos outros 5 minutos depois.  A senhora não vai me amedrontar no grito não. A senhora passa medo em outro, em mim não”, rebateu Medeiros.
Ex-ministra da Agricultura de Dilma Rousseff, Kátia Abreu (PMDB-TO) estreou na última terça-feira (28) como membro titular na Comissão Especial do Impeachment do Senado. Ela substituiu o senador José Pimentel (PT-CE) por indicação do PT. Medeiros chegou a tentar impedir que a senadora peemedebista integrasse o colegiado. Ontem (2), ele formalizou uma questão de ordem na qual defendia que pelo fato de Kátia Abreu ter sido arrolada na fase de admissibilidade do processo como testemunha pela equipe de defesa de Dilma. O pedido foi indeferido por Raimundo Lira. Segundo ele, Kátia veio na condição de ex-ministra ainda antes da elaboração do relatório daquela fase e, portanto, não poderia ser impedida de ser membro da comissão.
Edição: Maria Claudia