A presidente afastada Dilma Rousseff em ato contra o impeachment em Brasília (Foto: Filipe Matoso / G1)
No último ato com público antes de o Senado iniciar o julgamento final do processo de impeachment, a presidente afastada Dilma Rousseff reiterou nesta quarta-feira (24) que não cometeu crime, disse que seus adversários estão “rasgando a Constituição” e voltou a dizer que não renunciará ao mandato.
Dilma ainda acrescentou que podem virá-la “de todos lados” que não encontrarão seu envolvimento em atos de corrupção.
A sessão destinada ao julgamento final da petista começará na manhã desta quinta (25), e só será concluída somente na próxima semana. O depoimento de Dilma aos senadores está previsto para segunda-feira (29).
“[O processo de impeachment] não tem tanques, não tem armas, só uma arma discreta, que rasga a Constituição. Estão rasgando a Constituição. Estão me condenando por algo fantástico, que é um ‘não crime’. Eu não cometi crime”, disse Dilma.
“Nós respeitamos as instituições, não os golpistas. É diferente. E nós temos de saber viver num regime democrático. Temos de usar todos os instrumentos. Temos de ser capazes de resgatar a democracia. Porque um golpe desse tipo, mesmo que ainda não concluído, e todos esperamos que não se conclua, deixa marcas profundas. E qual é a principal? A ruptura democrática”, acrescentou a petista no “Ato em defesa da democracia com Dilma”, realizado em Brasília.
Em uma fala que durou cerca de 30 minutos, a presidente afastada relembrou o período em que ficou presa durante o regime militar e disse que lutará contra o impeachment “com a mesma força que lutei um dia lá atrás”.
Em outro trecho do discurso, Dilma disse que a democracia brasileira “não caiu do céu e não surgiu do nada”. Ela relembrou o suicídio do ex-presidente Getúlio Vargas e disse que, à época, a atitude dele “impediu a ruptura democrática”. “Mas hoje eu não tenho de renunciar, eu não tenho de me suicidar. Não tenho de fugir para o Uruguai. É um outro momento”, observou.
“Neste processo, sabemos que teremos que continuar lutando. Podem contar comigo! Eu conto com vocês”, concluiu.
Período de afastamento
Ao longo dos últimos 105 dias, nos quais esteve afastada do cargo, Dilma despachou do Palácio da Alvorada, residência oficial da Presidência. Nesse período, ela teve frequentes encontros com senadores aliados, dirigentes partidários e movimentos sociais.
Nesses pouco mais de três meses, a petista também fez diversas viagens pelo país a fim de buscar apoio da população contra o processo de impeachment. Dilma esteve, por exemplo, em Porto Alegre (RS), Rio de Janeiro (RJ), Belo Horizonte (MG), Curitiba (PR) e São Paulo (SP).
Em todas as ocasiões, ele enfatizava não ter cometido crime de responsabilidade, dizia que o impeachment é uma “injustiça” e como, na avaliação dela, não tem base legal, é um “golpe”.
O evento
Dilma chegou por volta das 20h20 ao evento, acompanhada de seus principais aliados, como os ex-ministros Jaques Wagner (Casa Civil), Miguel Rossetto (Secretaria-Geral), Patrus Ananias (Desenvolvimento Agrário) e Eelonora Menicucci (Políticas para as Mulheres).
Ao subir ao palco, a presidente afastada recebeu inúmeras flores de mulheres que estavam na plateia, postou para fotos e cumprimentou militantes dos movimentos sociais. A todo instante, ela acenava e mandava beijos para os integrantes da plateia.
Ao longo de todo o evento, o público presente entoou gritos como “Fora, Temer!”, “Volta, querida!” e “No meu país eu boto fé porque ele é governado por mulher”.
Embora não tenha gritado “Fora, Temer” no evento, Dilma sorria sempre que a plateia se posicionava contra o presidente em exercício Michel Temer, chamado de “golpista” a todo momento.
Ao sentar-se, Dilma assistiu à leitura de uma carta por Ana Morais, integrante do MST, na qual o movimento disse, entre outras coisas, que o Brasil vive “um dos momentos mais perigosos e dramáticos da história”, porque “as oligarquias querem tomar de assalto” o poder público, estabelecendo um governo “ilegítimo e usurpador”.
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