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G1 globo.com
Ex-ministro Palocci diz em delação que Dilma 'deu corda' para Lava Jato implicar Lula
Palocci indica ruptura entre Lula e Dilma e tentativa de 'sufocar' o ex-presidente para que não concorresse à presidência em 2014.
Por Ederson Hising, Aline Pavaneli e José Vianna, G1 PR e RPC Curitiba — Curitiba
"Dilma deu corda para aprofundar investigações e implicar Lula", diz Palocci
O ex-ministro Antonio Palocci disse em um dos depoimentos prestados em agosto de 2018 em delação premiada, tornado público nesta sexta-feira (18), que a ex-presidente Dilma Rousseff "deu corda" para que as investigações da Operação Lava Jato implicassem o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
"A respeito da ruptura entre Lula e Dilma, recorda-se o colaborador que, durante o crescimento da Operação Lava Jato, Dilma deu corda para o aprofundamento das investigações, uma vez que isso sufocaria e implicaria Lula", diz o termo de colaboração.
Dilma classificou a versão de Palocci como fantasiosa e disse que não passa de uma tentativa de fazer intriga entre ela e o ex-presidente. A assessoria de imprensa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva negou as acusações feitas em delação.
O termo complementar de depoimento, prestado após a homologação da delação pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4), foi anexado em inquérito da Polícia Federal (PF) sobre a Usina de Belo Monte, no Pará.
No primeiro termo, Palocci afirmou recebeu dinheiro em espécie de propina da Odebrecht.
Segundo o documento complementar, ao permitir o avanço da Lava Jato, Dilma tentava "sufocar" Lula para que ele desistisse de concorrer à presidência em 2014.
Por outro lado, conforme o depoimento, Lula relembrava a Dilma que ela era a presidente do Conselho de Administração da Petrobras à época de grande parte dos fatos apurados pela operação.
Segundo ele, o ex-presidente recordava Dilma disso em diversas reuniões no Instituto Lula na presença de dezenas de pessoas.
Os ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff — Foto: Reprodução/TV Globo e André Coelho/Agência O Globo
Palocci resumiu a ruptura entre Lula e Dilma em três motivos:
- Nomeação de Graça Foster para o comando da Petrobras;
- Mudança do financiamento de campanhas do PT centrado no partido e não em Lula;
- Construção da Usina de Belo Monte;
Na visão de Palocci, Lula era um ex-presidente dominante que queria manter o controle do governo e preparar sua volta, enquanto Dilma queria renovar o mandato. Ele ressalta no depoimento que Dilma não pode ser isentada de eventuais irregularidade.
“Foi a própria Dilma quem disse: ‘Nós podemos fazer o diabo quando é a hora da eleição’; que, em outras palavras, Dilma permitia que fossem feitas arrecadações ilícitas durante os períodos eleitorais”, diz um trecho do termo complementar.
Segundo Palocci, Lula tinha outro tipo de moral e que a única preocupação do ex-presidente era preservar a própria imagem, se afastando em momentos de ilicitudes e construindo versões que o isentavam de irregularidades.
“Para ele [Lula], o financiamento ilícito e contribuições empresariais vinculadas ou não a projetos não lhe causavam o menor constrangimento”, afirma o ex-ministro no termo.
Palocci relatou ainda que fez a seguinte pergunta ao ex-presidente durante o andamento da Lava Jato: “Por que você não pega o dinheiro de uma palestra e paga o seu triplex?”.
A resposta foi: “Um apartamento na praia não cabe em minha biografia”.
Ainda de acordo com as declarações do ex-ministro, Lula acreditava que, “ao manter distância e fechar os olhos para ilicitudes, tapava também os olhos da Justiça para seus próprios bens”.
Nota de Dilma na íntegra:
"A propósito das supostas novas declarações do senhor Antônio Palocci, a Assessoria de Imprensa de Dilma Rousseff registra:
Mais uma vez, o senhor Antônio Palocci mente em delação premiada, tentando criar uma cortina de fumaça porque não tem provas que comprometam a idoneidade e a honra da presidenta Dilma.
É fantasiosa a versão de que ela teria “dado corda” para a Lava Jato “implicar” Lula. Isso não passa de uma tentativa vazia de intrigá-la com o presidente Lula.
Na verdade, a delação implorada de Palocci se constitui num dos momentos mais vexaminosos da política brasileira, porque revela o seu verdadeiro caráter."
Nota de Cristiano Zanin Martins, advogado de Lula:
"Palocci produziu mais uma narrativa mentirosa e mirabolante contra Lula em troca de benefícios negociados clandestinamente com agentes do Estado objetivando produzir resultados políticos contra o ex-presidente. É a mesma sistemática denunciada pela defesa de Lula ao Comitê de Direitos Humanos da ONU em 2016 e que aguarda julgamento perante aquela instância internacional.
Também é manifestamente ilegal o vazamento desse depoimento prestado à Polícia Federal, situação que deve merecer pronta iniciativa do Diretor-Geral do órgão e do Ministro da Justiça e Segurança Pública para investigação e punição dos envolvidos".
Nota da assessoria de Lula:
"A Lava Jato tem quase 200 delatores beneficiados por reduções de pena. Para todos perguntaram do ex-presidente Lula. Nenhum apresentou prova nenhuma contra o ex-presidente ou disse ter entregue dinheiro para ele. Antônio Palocci, preso, tentou fechar um acordo com o Ministério Público inventando histórias sobre Lula. Até o Ministério Público da Lava Jato rejeitou o acordo por falta de provas e chamou de 'fim da picada'.
Mas o TRF-4 decidiu validar as falas sem provas de Palocci, que saiu da prisão e foi para a casa, com boa parte de seu patrimônio mantido em troca de mentiras sem provas contra o ex-presidente. O que sobra são historinhas para gerar manchetes caluniosas.
Todos os sigilos fiscais de Lula e sua família foram quebrados sem terem sido encontrados valores irregulares. Há outros motoristas e outros sigilos que deveriam ser analisados pelo Ministério Público, que após anos, segue sem conseguir prova nenhuma contra Lula, condenado por 'atos indeterminados'. Curiosa a divulgação dessa delação sem provas justo hoje quando outro motorista ocupa o noticiário".
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