A GloboNews teve acesso a documentos anexados pela Odebrecht ao processo no TSE que julga a chapa Dilma-Temer.

Os documentos foram entregues à Justiça para comprovar as versões dadas nos depoimentos dos delatores da Odebrecht. São e-mails, planilhas, anotações pessoais e agendas para comprovar que os delatores falaram a verdade aos investigadores.

Embora os documentos tenham sido entregues ao Tribunal Superior Eleitoral, nem todos se referem a assuntos relacionados ao processo que pede a cassação da chapa Dilma-Temer. Também não é possível saber quais documentos foram incluídos como prova pelo relator das ações, ministro Hermam Benjamin.

No depoimento dado ao Tribunal Superior Eleitoral, Marcelo Odebrecht contou que foi à Cidade do México em maio de 2015 para alertar a então presidente Dilma que as investigações da Lava Jato poderiam chegar à campanha de 2014.

Ele disse: "Eu tenho medo de que exista uma contaminação nas contas do exterior usadas para pagamento para João Santana, quero alertar a senhora disso."

Como prova de que o encontro teria acontecido, Marcelo Odebrecht entregou cópia da passagem de ida e volta para o México no período do encontro e e-mails em que descreve o motivo da viagem e as tentativas de um encaixe na agenda que a presidente Dilma teria no país.

Três dias antes e embarcar, Marcelo pergunta a executivos da Braskem se a agenda está definida para confirmar a ida ao México. Em outro e-mail, alerta que Dilma já chega nos lugares querendo ir embora e não gosta de fazer nada além do que já é obrigada.

Marcelo entregou uma anotação com o seguinte teor: "Dizer do risco da conta suíça chegar na conta dela, na campanha dela".

No depoimento ao TSE, Marcelo Odebrecht contou também que a construtora disponibilizou uma conta-corrente de R$ 150 milhões para a campanha presidencial de 2014, R$ 50 mihões eram contrapartida da negociação do texto de uma medida provisória, a que prorrogou o prazo para empresas aderirem ao Refis durante a crise de 2009.

Marcelo apresentou e-mail para comprovar a articulação. Em um e-mail, enviado em 30 de março de 2010, para o ex-assessor de Antonio Palocci Branislav Kontic, Marcelo pede para "Brani" falar com o chefe, Palocci, sobre a aprovação da medida provisória.

Ele diz que a única maneira de evitar as idas e vindas é aprovar uma MP específica para a empresa."Se formos continuar via emendas, vai ser esta batalha inglória, onde todos querem sempre enfiar algo que o governo não aceita."

Marcelo usa a sigla "GM" para dizer que falou com Guido Mantega, e pede ajuda ao assessor.

Marcelo também entregou e-mails que mostram reuniões e encontros com "GM", Guido Mantega. Nas planilhas da Odebrechtm ele é indicado como "pós-itália". Ao todo, segundo os e-mails, foram 54 encontros marcados ao longo de 4 anos.

PMDB

José de Carvalho Filho, ex-funcionário da Odebrecht, apresentou uma planilha para comprovar a entrega de R$ 4 milhões ao PMDB em 2014.

Segundo o delator, quem fez a distribuição desse dinheiro foi Eliseu Padilha, que atualmente é o ministro da Casa Civil. Um dos endereços para a entrega do dinheiro é o escritório do advogado José Yunes. Em depoimento espontâneo ao Ministério Público, o advogado José Yunes disse que foi usado e que serviu de mula involuntária de Padilha.

A planilha mostra as datas, os valores, as senhas e na coluna observações aparece o endereço do escritório de José Yunes, advogado e amigo do presidente Michel Temer. José de Carvalho também apresentou registros de telefonemas para Padilha.

No dia seguinte da entrega do dinheiro no escritorio de Yunes há o registro de uma ligação e de uma troca de mensagens com Eliseu Padilha. Este documento não tem o conteúdo da ligação nem da mensagem.

Outros partidos

Os executivos também entregaram cópias de e-mails trocados durante a campanha de 2014 que revelam a suposta compra dos partidos da coligação que apoiou a chapa Dilma-Temer: PCdoB, PRB e PROS.

Em um e-mail, em agosto de 2014, Marcelo Odebrecht pede que Hilberto Mascarenhas, um dos chefes do departamento de propina da construtora, avise a "feira", apelido de Monica Moura, que tem mais 20 garantidos pra o marido dela, o marqueteiro da campanha de Dilma, João Santana.

Outros e-mails do departamento revelam uma programação semanal de pagamentos e quanto iria para cada partido. Entre 15 e 19 de setembro, R$ 1 milhão iria para o PCdoB e R$ 500 mil para o "onça", como é chamado o PROS. Um funcionário pergunta quanto vai ter para "feira", que é Monica Moura, e "doutor", que é o PRB. A resposta: 500 mil para cada.


Versões
A defesa da ex-presidente Dilma Rousseff disse que não há nenhum documento que comprove a agenda individual de Marcelo Odebrecht com Dilma. Diz ainda que a afirmação de Marcelo Odebrecht, de que R$ 50 milhões foram uma contrapartida pela aprovação de uma medida provisória em 2009 é mentirosa e que é impossível que Guido Mantega tenha pedido qualquer doação de campanha para 2010.

A assessoria do PCdoB divulgou nota na qual afirmou que o partido "somente recebeu recursos eleitorais na forma marcada pela lei vigente no país no momento das eleições e realizou, na forma da lei, prestação de contas de todos os recursos recebidos junto aos órgãos competentes".

"A acusação de que o PCdoB vendeu o seu tempo de TV para a campanha de Dilma Rousseff é completamente descabida. As relações do PCdoB com o PT são baseadas exclusivamente em afinidades programáticas o que é do conhecimento de qualquer um que acompanhe a vida política do país. Isso se demonstra, por exemplo, no fato do Partido Comunista do Brasil ter apoiado candidatos do Partido dos Trabalhadores à presidência em todos os pleitos desde a redemocratização. As alianças eleitorais de nosso partido são baseadas sempre em nosso programa e nos interesses do país e do povo", acrescentou o partido.

A assessoria da Casa Civil informou que o ministro Eliseu Padilha não irá se pronunciar.

A GloboNews buscava contato com os demais citados na reportagem até a última atualização deste texto.