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HyperAdapt 1.0, tênis que se amarra sozinho inspirado em 'De volta para o futuro', chega ao Brasil por R$ 3,5 mil
Calçado da Nike começa a ser vendido nesta quinta-feira (24). Modelo é de uso casual, mas ideia da fabricante é que tecnologia chegue em breve às quadras de basquete.
Por Bruno Araujo, G1
Marty McFly ficaria orgulhoso: a ficção se tornou realidade. É que nesta quinta-feira (24) começa a ser vendido no Brasil o HyperAdapt 1.0, tênis que se amarra sozinho e que foi inspirado no filme "De volta para o futuro 2" (1989).
O preço de cada par é bem alto: R$ 3,5 mil. Mas lá fora a situação também não é fácil: US$ 720. Assista ao vídeo acima.
Esse é o primeiro modelo da Nike que executa essa proeza mágica e é vendido para o público em geral. Antes dele, a fabricante lançou em 2016 uma réplica totalmente funcional do Mag, o pisante de McFly no cinema. As vendas, no entanto, foram apenas por leilão.
Os recursos foram destinados para a fundação de Michael J. Fox para pesquisas sobre o Mal de Parkinson. O ator foi diagnosticado com a doença em 1990.
Hoje, um par de Nike Mag pode custar até US$ 45 mil em mercados de venda de tênis.
Magia e apatia
Ao aparecer na redação do G1, o HyperAdapt 1.0 causou duas reações opostas dependendo da pessoa: espanto total com um tênis que se molda sozinho ao pé; ou ligeira decepção com seu barulhinho de batedeira, a ponto de surgirem comentários como... "mas é só isso?"
A verdade é que o calçado, de fato, impressiona. Mas também é verdade que, desconsiderado o fator inovação, ele "só" se amarra sozinho.
A tecnologia por trás do HyperAdapt 1.0 está em desenvolvimento há mais de 10 anos e foi imaginada primeiro por Tinker Hatfield, principal designer de tênis da Nike e criador de vários modelos da linha de Michael Jordan, a partir da ideia de que um calçado moderno precisa se adaptar às nossas atividades e ao formato dos nossos pés.
Hatfield também é personagem de um dos episódios da série-documentário "Abstract: The art of design", da Netflix.
Num segundo momento, Hatfield passou a contar com a ajuda de Tiffany Beers, funcionária até 2017 do departamento de inovação da companhia, e Mark Parker, o próprio CEO da Nike.
Juntos, eles materializaram o tênis que se amarra sozinho e batizaram a tecnologia responsável por isso de E.A.R.L., sigla para "Electro Adaptive Reactive Lacing" (algo como amarração eletrônica adaptável e reativa, em tradução para o português). E se você pensou em algo como cadarços fazendo nós no ar, melhor pensar de novo.
Funciona assim:
- O HyperAdapt 1.0 tem um sensor no calcanhar que reconhece pressão, ou seja, o momento em que é calçado e a pessoa se levanta
- Esse sensor aciona o motor do tênis, instalado debaixo da palmilha, que por sua vez é conectado a seis cabos que a Nike chama de "flywire"
- O motor então traciona esses cabos, que passam por dentro da lateral do tênis, até eles ajustarem o cabedal confortavelmente em torno do pé
De acordo com Paulo Guimarães, especialista de produtos da Nike, a ideia é que o usuário personalize o HyperAdapt 1.0 para que ele se lembre do formato do seu pé.
"O tênis tem dois botões na parte externa, para amarrar mais ou afrouxar. Usando eles você define quão apertado quer essa amarração. O tênis consegue salvar isso na memória. E toda vez que você calçá-lo, ele vai ativar essa memória e colocar a amarração que você definiu", ele conta ao G1.
Uma bateria instalada no solado do tênis alimenta o motor. Ela é recarregada por indução, sem fios e por aproximação, como em smartphones e relógios inteligentes mais modernos. Segundo a Nike, uma carga pode durar cerca de duas semanas de uso.
Futuro do tênis
Então o HyperAdapt 1.0 é um artigo de luxo feito para quem tem preguiça de amarrar os sapatos? Também! Mas não é apenas isso.
A Nike enxerga no modelo uma porta de entrada para levar a tecnologia de auto-amarração em breve até os esportes. Mais especificamente, para as quadras de basquete.
Durante o desenvolvimento do tênis, o trio percebeu como a E.A.R.L. pode ser a solução para lesões e pés deformados devido ao uso de tênis muito apertados. Shaquille O'Neal e LeBron James que o digam.
"Os jogadores de basquete têm bastante tempo de partida, mas também passam muito tempo parados. Então imaginE se, enquanto o atleta espera o companheiro cobrar um lance livre, ou durante uma parada técnica, o sapato percebe isso e se desamarra para não causar tanta pressão no pé?", conta Paulo Guimarães.
"E aí quando ele realmente for pro jogo, e precisar do ajuste, o calçado se amarra sozinho durante a partida. Esse é o primeiro passo de como a Nike imagina o futuro do tênis daqui pra frente".
O interesse, é claro, não é apenas benevolente. De acordo com a consultoria Sports Value, a receita das empresas Nike, Adidas, Puma e Under Armour, as quatro maiores do mercado de material esportivo, é essencialmente de vendas de tênis, linha têxtil e equipamentos esportivos.
No caso da Nike, os tênis representaram US$ 21 bilhões do faturamento de US$ 34,4 bilhões da companhia em 2017, o equivalente a 65% do total.
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