quarta-feira, 23 de maio de 2018

Por que as distribuidoras de energia brigam para comprar a Eletropaulo?

ORDEM E PROGRESSO .

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Fonte de informação .

G1 globo.com

ECONOMIA

Por que as distribuidoras de energia brigam para comprar a Eletropaulo?

Distribuidora de energia paulista vai leiloar ações na bolsa de valores no próximo dia 4; Enel e Neoenergia brigam lance a lance para tentar comprá-la.

Por Luísa Melo, G1
 
AEletropaulo, responsável por levar energia a São Paulo e outras 23 cidades da região metropolitana, vai leiloar suas ações na bolsa de valores no próximo dia 4. Tudo indica que será o capítulo final de uma briga acirrada entre as concorrentes Enel e Neoenergia para tentar comprar a empresa. Mas por que a distribuidora é tão cobiçada? A possibilidade de controlar a companhia, que hoje tem capital pulverizado, a região abastecida e o perfil do consumidor atendido por ela são algumas das respostas, segundo analistas ouvidos pelo G1.
A disputa pela Eletropaulo começou em março, quando a brasileira Energisa fez uma oferta de R$ 19,38 por cada ação da empresa. A investida veio depois de uma proposta da italiana Enel para comprar a participação da americana AES no negócio, de valor desconhecido.
Depois disso, a Neoenergia, do grupo espanhol Iberdrola, também entrou na concorrência e passou a brigar com a Enel pelo negócio lance a lance. Diante de sucessivas propostas "hostis" (termo conhecido para ofertas não solicitadas), a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) teve que intervir no processo e agendou uma data para um leilão.
O valor mais alto até agora foi oferecido pela Enel, de R$ R$ 32,20 por ação. Diante dos preços agressivos dados pelas rivais, a Energisa acabou desistindo e retirou sua oferta. A reportagem procurou as três empresas e a Eletropaulo, mas nenhuma deu entrevista.

Comprador será líder de mercado

O tamanho da Eletropaulo é um fator de peso nas negociações. O comprador, qualquer que seja, se tornará líder no setor. "Todas elas [as empresas que disputam a compra] querem expandir mercado, é um faturamento muito grande", diz Thais Prandini, diretora da consultoria Thymos Energia. "Certamente estão interessadas em sinergias, querem crescer", emenda Claudio Sales, presidente do Instituto Acende Brasil.
No caso da Neoenergia, seria possível compartilhar estruturas, já que ela tem concessões no interior de São Paulo (com a Elektro, que também opera no Mato Grosso do Sul), além de Bahia (Coelba), Rio Grande do Norte (Cosern) e Pernambuco (Celpe). A Enel opera no Rio de Janeiro, Ceará e Goiás (antiga Celg). Ambas as empresas também atuam no ramo de geração de energia no país.
Faturamento, clientes e energia distribuída da Eletropaulo, Enel e Neoenergia (Foto: Fernanda Garrafiel/Arte G1)Faturamento, clientes e energia distribuída da Eletropaulo, Enel e Neoenergia (Foto: Fernanda Garrafiel/Arte G1)
Faturamento, clientes e energia distribuída da Eletropaulo, Enel e Neoenergia (Foto: Fernanda Garrafiel/Arte G1)

Muita gente, poucos ativos

A própria área atendida pela Eletropaulo também um atrativo. Ela abastece São Paulo, a cidade mais populosa do país, e a região metropolitana. A densidade demográfica é alta: são muitos consumidores concentrados em um espaço "pequeno".
Isso significa que a necessidade de investimentos da distribuidora é menor do que de outras que precisam levar energia a regiões pouco habitadas e de grande extensão territorial, como Mato Grosso ou Amazonas.
"Proporcionalmente, é menor a quantidade de ativos necessários para distribuir uma carga [de energia] da Eletropaulo [em comparação com outras empresas]. O custo para atender um consumidor novo em São Paulo é mais baixo", explica Sales.
"O desafio de gestão, nesse caso, acaba sendo menor", endossa Thais.

Tarifa é baixa e pode subir

É também por esse motivo que a tarifa da Eletropaulo é uma das mais baixas do país. Os investimentos em ativos usados para distribuir energia (subestações, cabos e postes) e o número de consumidores atendidos são critérios levados em conta pela Aneel para definir a remuneração das distribuidoras.
Sales ressalta, porém, que menos de 20% do que é cobrado na conta de energia é destinado à atividade de distribuição. Outros 30% vão para geração e transmissão e o restante são impostos e outros encargos.
Caso o comprador intensifique os investimentos na rede de distribuição da Eletropaulo, há possibilidade de que a tarifa aumente, destacam os especialistas. Sales ressalta, porém, que primeiro os ativos precisam ser reconhecidos pela Aneel e que os reajustes são feitos a cada quatro anos. "Tudo isso é regulado, não é arbitrário", afirma.
O perfil do cliente atendido pela distribuidora também é desejado pelas concorrentes. "Ela atua numa região de alto poder aquisitivo, que tem um consumo de energia per capta bem mais alto", diz Sales.
Tarifa de energia por distribuidora
DistribuidoraTarifa em R$/kWhEstado
Cooperaliança0,38SC
DMED0,414MG
Eletropaulo0,42SP
ESS0,433SP
RGE0,434RS
Copel-DIS0,441PR
MuxEnergia0,447RS
Boa Vista0,457RR
Celesc-DIS0,46SC
Ienergia0,46SC
CPFL Piratininga0,466SP
Uhenpal0,467RS
Celpe0,48PE
Cosern0,481RN
CEB-DIS0,482DF
Forcel0,483PR
Escelsa0,485ES
CPFL Paulista0,485SP
Enel GO (antiga Celg)0,486GO
Bandeirante0,487SP
Elektro0,488SP
CPFL Santa Cruz0,491SP
Enel CE0,492CE
Cemig-D0,494MG
Ceron0,494RO
EPB0,495PB
Demei0,497RS
EBO0,499PB
CEEE-D0,505RS
Eletrocar0,505RS
EMG0,507MG
Eletroacre0,51AC
ESE0,514SE
Ceal0,516AL
Coelba0,519BA
Hidropan0,52RS
ENF0,525RJ
CEA0,537AP
ELFSM0,539ES
Sulgipe0,544SE
EMS0,545MS
RGE SUL0,547RS
Cocel0,547PR
ETO0,549TO
Cepisa0,554PI
Cemar0,561MA
Chesp0,566GO
EMT0,568MT
Light0,575RJ
Celpa0,599PA
AmE0,604AM
EFLJC0,606SC
Enel RJ0,623RJ
Eflul0,626SC

Por que a AES quer vender?

A AES comunicou intenção de vender sua fatia na Eletropaulo em fevereiro. Mas por que ela quer se desfazer de uma empresa que para os concorrentes é tão atrativa? O grupo norte-americano não explicou os motivos, mas para Thais Prandini, da Thymos Energia, é uma questão de foco.
"Historicamente a AES não é uma companhia de distribuição, mas de geração. Ela encarou o desafio de assumir a Eletropaulo (que era estatal), mas não sei se é mesmo a praia dela. Fora do Brasil está olhando novos mercados, com foco grande em baterias", afirma.

Duelo entre distribuidoras

A disputa pela compra tem sido tumultuada. A Neoenergia até chegou fechar um acordo para ficar com novas ações que seriam emitidas pela Eletropaulo, mas a emissão dos papéis foi suspensa diante de proposta mais alta da Enel. Sem se dar por vencida, a espanhola pediu arbitragem no mercado brasileiro para apurar o cancelamento.
O duelo entre as duas empresas chegou até mesmo a autoridades da União Europeia. A Neoenergia alegou que a rival teria vantagem no negócio por ter controle estatal e a Enel se defendeu dizendo que as queixas não tinham substância e visavam atrapalhar uma concorrência justa.

Valorização expressiva

Quem ganhou com todo esse imbróglio foi a própria Eletropaulo, que viu o preço de suas ações disparar. Seu valor de mercado quase dobrou em dois meses, saltando de R$ 2,88 bilhões em 1º de março para R$ 5,61 bilhões em 22 de maio, segundo dados da provedora de soluções financeiras Economatica.
A Eletropaulo é hoje uma companhia de capital pulverizado. A maior parte de seus papéis (49,58%) está na mão de pequenos investidores e pode circular na bolsa. Seus maiores acionistas individuais são o braço de participações do Banco Nacional de Desenvolvimento Social (BNDESPar) e o grupo AES, que detêm 18,73% e 16,84% das ações, respectivamente. A União Federal é dona de outros 7,97%, investidores qualificados têm outros 5,05% e 1,83% estão na tesouraria da empresa.
O grupo que vencer o leilão poderá mudar essa configuração e terá chance de assumir sozinho o controle da distribuidora, a maior do Brasil em consumo de energia e faturamento, segundo números da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). Em quantidade de clientes, a liderança é da Cemig-D. Os dados consideram distribuidoras individuais e não agrupam concessões diferentes administradas por um mesmo controlador.
E essa possibilidade de concentração também é um dos principais motivos da disputa acirrada pelo negócio e dos altos lances oferecidos.
"O que está implícito é o chamado prêmio de controle. Hoje não há um acionista que controle isolado a empresa, por isso é importante para os potenciais compradores pagar um preço acima do que está no mercado", explica Sales, do Acende Brasil.

Como será o leilão

Novos interessados em comprar a Eletropaulo têm que manifestar sua intenção de participar do leilão até as 15h da próxima quinta-feira (24), mas não precisam apresentar propostas. Na mesma data, Enel e Neonergia têm que apresentar suas ofertas.
Às 19h05 os envelopes com as propostas das duas empresas serão abertos e as companhias poderão aumentar o valor sugerido em caso de empate.
Isso servirá para definir o lance inicial do leilão do dia 4 de junho. Se nenhum novo interessado aparecer, somente a maior oferta apresentada no dia 24 pela Enel ou pela Neoenergia será registrada no certame.
No dia do leilão, Enel e Neoenergia só poderão aumentar suas ofertas caso o lance do novo interessado seja ao menos 5% maior do que o registrado anteriormente por elas.
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