sexta-feira, 27 de julho de 2018

Ex-vice-presidente e antigo aliado de Daniel Ortega diz que Nicarágua 'vive administrando o medo'

ORDEM E PROGRESSO .

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ACORDA BRASIL MUDA .
ANTES QUE SEJA TARDE DEMAIS .

Marco Antonio Marques .
Bom dia amigos .
Projetos EAS geração de energia elétrica auto sustentável único no mundo .
Estamos começando de 2018  com esperanças renovadas .
Enquanto a pessoa viva e tentando ajudar para oferecer mais alternativa para o setor elétrico mundial ninguém da importância de uma tecnologia inovadora já existente que funciona comprovadamente só que não usada para gerar energia elétrica sustentável sem destruição do meio ambiente e sem a utilização de represas .
Neste mercado mundial dominado por grandes empresas parece que não é interessante que novos projetos venham colaborar na deficiente geração de energia elétrica mundial que falta de inteligencia de todos os governantes mundiais .
Com a experiencia na construção civil desde 1978 com 40 anos neste setor poço criar diversos projetos únicos no mundo para gerar muita energia elétrica auto sustentável e suprir a demanda mundial , mas sem apoio financeiro o poço fazer , nada .
Porto Alegre RS Brasil , 14/072018 as 09:46 horas .
ATÉ QUANDO FALA BRASIL .

Fonte de informação .

G1 globo.com

MUNDO

Ex-vice-presidente e antigo aliado de Daniel Ortega diz que Nicarágua 'vive administrando o medo'

Em entrevista ao G1, Sergio Ramírez, hoje um escritor, fala sobre o autoritarismo do ex-aliado político. 'Há meninos assassinados que tinham uma vida pela frente'.

Por Lucas Vidigal, G1
 
Quando era vice-presidente do primeiro mandato de Daniel Ortega (1985-1990) no comando da Nicarágua, Sergio Ramírez não imaginou que o antigo correligionário da luta por democracia afundaria o país em uma violenta crise que deixou mais de 400 mortos. "Eu não poderia medir que Ortega se tornaria o que se tornou agora", afirmou, em entrevista ao G1 nesta quinta-feira (26).
Ramírez deixou a política em 1996. Desde então, perdeu o contato com Ortega e, hoje, como escritor, é uma das principais vozes de oposição ao regime do atual presidente da Nicarágua. Em maio, ele dedicou "à memória dos estudantes assassinados" a conquista do prêmio literário Cervantes, em cerimônia na Espanha.
Para Ramírez, a repressão vivida na Nicarágua tomou proporções antes inimagináveis em um país considerado seguro nos padrões da América Central. Além dos mais de 440 mortos — número que ainda pode aumentar —, há centenas de feridos, presos políticos e desaparecidos.
"Esses números são assombrosos para um país com [cerca de] 6 milhões de habitantes", observou o ex-vice-presidente da Nicarágua.
Entre as vítimas, está a brasileira Raynéia Gabrielle Lima, 30 anos, morta a tiros na segunda-feira (22) na capital, Manágua. O reitor da universidade onde Raynéia estudava disse que paramilitares atiraram contra ela. O governo, porém, nega. Em resposta, o presidente do Brasil, Michel Temer, disse, nesta quinta-feira, que "não é possível admitir" a morte de Raynéia "sem tomar providências".

Tudo pelo poder

Presidente da Nicarágua, Daniel Ortega, e sua vice-presidente, Rosario Murillo, chegam a evento em comemoração ao 39º aniversário da Revolução Sandinista (Foto: Jorge Cabrera/ Reuters)Presidente da Nicarágua, Daniel Ortega, e sua vice-presidente, Rosario Murillo, chegam a evento em comemoração ao 39º aniversário da Revolução Sandinista (Foto: Jorge Cabrera/ Reuters)
Presidente da Nicarágua, Daniel Ortega, e sua vice-presidente, Rosario Murillo, chegam a evento em comemoração ao 39º aniversário da Revolução Sandinista (Foto: Jorge Cabrera/ Reuters)
O escritor e ex-vice-presidente diz que manobras políticas entre os anos 1990 e 2000 destruiram o respeito entre os poderes — que, segundo Ramírez, existia no primeiro mandato de Ortega.
"Havia um equilíbrio, e esse equilíbrio não permitia que alguém se autoproclamasse 'chefe-supremo'", disse Ramírez.
Ortega e sua mulher, Rosario Murillo, durante comemorações da Revolução Sandinista (Foto: Reuters/Oswaldo Rivas)Ortega e sua mulher, Rosario Murillo, durante comemorações da Revolução Sandinista (Foto: Reuters/Oswaldo Rivas)
Ortega e sua mulher, Rosario Murillo, durante comemorações da Revolução Sandinista (Foto: Reuters/Oswaldo Rivas)
O atual presidente fez parte do grupo sandinista — contrário aos Somoza. Esse grupo liderou a revolução armada que derrubou a ditadura, em 1979. Ramírez, que havia acabado de voltar de 14 anos de exílio na Costa Rica e na Alemanha, fez parte de um coletivo de intelectuais opositores ao regime.
Em 1990, porém, Ortega perdeu a eleição para a candidata Violeta Chamorro. Depois, o atual presidente ainda sairia derrotado em mais duas eleições. Só voltou ao poder — de onde não saiu mais — em 2007. E beneficiado por manobras políticas das gestões anteriores.
Segundo Ramírez, o partido de Ortega se aliou ao de Arnoldo Alemán — envolvido em denúncias de corrupção — para fazer os sandinistas voltarem ao poder. "Eles aprovaram uma reforma eleitoral em 2000 para permitir que um candidato vencesse a eleição presidencial se obtivesse mais de 35% votos no primeiro turno", relembrou Ramírez.
Manifestantes seguram cartaz escrito "Não à violência e sim à paz" na Nicarágua (Foto: Inti OCON/AFP)Manifestantes seguram cartaz escrito "Não à violência e sim à paz" na Nicarágua (Foto: Inti OCON/AFP)
Manifestantes seguram cartaz escrito "Não à violência e sim à paz" na Nicarágua (Foto: Inti OCON/AFP)
O plano de Ortega deu certo. Para vencer o pleito de 2006 e assumir o mandato no ano seguinte, o sandinista não precisou de mais do que 38% dos votos.
Além disso, fez a Suprema Corte do país decidir favoravelmente a um pedido juridicamente absurdo, segundo Ramírez: "declarar a constituição inconstitucional e permitir a reeleição". O presidente alegou que a Carta Magna "violava seu direito humano de se reeleger", contou o escritor.
"Ortega voltou ao poder decidido a nunca sair, qualquer que fosse o preço social a se pagar. Isso em nome de um projeto político idealista e um tanto romântico", acusou Ramírez.

O autoritarismo de Ortega

O presidente da Nicarágua, Daniel Ortega, exibe o dedo sujo de tinta após se identificar para votar em eleições municipais em Manágua (Foto: Inti Ocon / AFP)O presidente da Nicarágua, Daniel Ortega, exibe o dedo sujo de tinta após se identificar para votar em eleições municipais em Manágua (Foto: Inti Ocon / AFP)
O presidente da Nicarágua, Daniel Ortega, exibe o dedo sujo de tinta após se identificar para votar em eleições municipais em Manágua (Foto: Inti Ocon / AFP)
Já distante do ex-parceiro de gabinete, Ramírez relatou que a Nicarágua viveu uma falsa paz nos últimos anos.
"Ortega conseguiu um pacto com os adversários que deu estabilidade econômica ao país. Mas havia um clima de autoritarismo silencioso", contou o ex-vice-presidente.
O presidente conseguiu ampliar o silêncio, afirmou Ramírez, ao facilitar que seus filhos comprassem canais de televisão aberta da Nicarágua. Além disso, outros setores da economia estão nas mãos de familiares e aliados de Ortega.
"Temos uma situação em que há fraude eleitoral, corrupção, autoritarismo, falta de equilíbrio entre os poderes. Panorama frente ao qual a população está inconformada", descreveu Ramírez.
Policiais disparam balas de borracha em estudantes de engenharia que tomaram as ruas para protestar contra as reformas do governo no INSS, em Manágua, na Nicarágua (Foto: Inti Ocon/AFP)Policiais disparam balas de borracha em estudantes de engenharia que tomaram as ruas para protestar contra as reformas do governo no INSS, em Manágua, na Nicarágua (Foto: Inti Ocon/AFP)
Policiais disparam balas de borracha em estudantes de engenharia que tomaram as ruas para protestar contra as reformas do governo no INSS, em Manágua, na Nicarágua (Foto: Inti Ocon/AFP)
Por isso, o escritor nicaraguense acredita que os protestos contra a reforma previdenciária foram apenas o estopim para a crise eclodir. "O grito ecoou por todo o país", afirmou.
Na visão de Ramírez, a reforma da previdência logo foi deixada de lado da pauta dos manifestantes ante à violenta repressão. Tanto que Ortega derrubou a medida logo depois das cenas de violência e, mesmo assim, a crise continuou.
"Ortega, no lugar de renunciar e buscar uma saída para a situação, começou a matar gente", acusou Ramírez.

A ação dos paramilitares

Paramilitares são vistos em camionetes no bairro de Monimbo, em Masaya, na Nicarágua, em 18 de julho (Foto: Marvin Recinos/AFP)Paramilitares são vistos em camionetes no bairro de Monimbo, em Masaya, na Nicarágua, em 18 de julho (Foto: Marvin Recinos/AFP)
Paramilitares são vistos em camionetes no bairro de Monimbo, em Masaya, na Nicarágua, em 18 de julho (Foto: Marvin Recinos/AFP)
A matança ocorre porque o presidente, afirma o ex-vice, não pode contar nem com a polícia — ao menos não explicitamente, pelo prestígio que tem no país — nem com o exército. As Forças Armadas da Nicarágua decidiram não se envolver na questão.
Então, Ortega depende de grupos paramilitares para reprimir os opositores. "Desde que começaram as barricadas e os protestos nas ruas, o presidente não podia chamar a polícia. Então, criou um grupo paramilitar, que tem armas de guerra", narrou Ramírez.
"São partidários, radicais, antigos combatentes da guerrilha, membros da juventude sandinista", enumerou o escritor e ex-vice-presidente.
Amigos e familiares carregam o caixão com o corpo de Gerald Vasquez, um estudante de engenharia que foi morto durante o ataque de 14 de julho pela polícia e forças paramilitares à Universidade Nacional de Manágua, na Nicarágua (Foto: Alfredo Zuniga/AP)Amigos e familiares carregam o caixão com o corpo de Gerald Vasquez, um estudante de engenharia que foi morto durante o ataque de 14 de julho pela polícia e forças paramilitares à Universidade Nacional de Manágua, na Nicarágua (Foto: Alfredo Zuniga/AP)
Amigos e familiares carregam o caixão com o corpo de Gerald Vasquez, um estudante de engenharia que foi morto durante o ataque de 14 de julho pela polícia e forças paramilitares à Universidade Nacional de Manágua, na Nicarágua (Foto: Alfredo Zuniga/AP)
A maior parte dos mortos desde o início da crise, aponta Ramírez, morreram nas mãos dos paramilitares. Segundo ele, o armamento chegou facilmente a esse grupo — na América Central, conta o escritor, armas circulam com alguma facilidade principalmente por causa dos conflitos vividos pela região.
Ramírez reconhece que houve auxílio da comunidade internacional. A resolução da Organização dos Estados Americanos (OEA) e a pressão de Washington pela antecipação das eleições para o ano que vem foram celebradas pelo ex-correligionário de Ortega. "Mas ele não vai cumprir nenhuma das exigências", ponderou.

Contra o medo, a literatura

Manifestante exibe morteiro caseiro com uma flor durante marcha para exigir libertação de presos políticos em Manágua, na Nicarágua, em 21 de julho (Foto: Reuters/Oswaldo Rivas)Manifestante exibe morteiro caseiro com uma flor durante marcha para exigir libertação de presos políticos em Manágua, na Nicarágua, em 21 de julho (Foto: Reuters/Oswaldo Rivas)
Manifestante exibe morteiro caseiro com uma flor durante marcha para exigir libertação de presos políticos em Manágua, na Nicarágua, em 21 de julho (Foto: Reuters/Oswaldo Rivas)
Da capital, Manágua, o ex-vice-presidente não escondeu o medo durante a entrevista ao G1. "É inevitável."
"Aqui se vive administrando o medo. E há gente que teme mais do que eu", disse Ramírez.
Por causa da tensão que vive a Nicarágua, Ramírez vai se permitir trocar a ficção pela crônica realista. Antes escritor de romance, ele prepara, agora, um livro para contar as histórias da violenta crise pela qual passa seu país.
"Minha profissão de escritor de ficção está suspensa. É muito difícil separar nestes momentos minhas preocupações, minhas surpresas diárias com as notícias cada vez mais brutais."
Parentes abraçam universitário livre após ficar preso durante a noite toda na Igreja Católica da Divina Misericórdia para fugir de emboscada na Universidade Autônoma Nacional da Nicarágua (Unan), em Manágua, em 14 de julho (Foto: Reuters/Oswaldo Rivas)Parentes abraçam universitário livre após ficar preso durante a noite toda na Igreja Católica da Divina Misericórdia para fugir de emboscada na Universidade Autônoma Nacional da Nicarágua (Unan), em Manágua, em 14 de julho (Foto: Reuters/Oswaldo Rivas)
Parentes abraçam universitário livre após ficar preso durante a noite toda na Igreja Católica da Divina Misericórdia para fugir de emboscada na Universidade Autônoma Nacional da Nicarágua (Unan), em Manágua, em 14 de julho (Foto: Reuters/Oswaldo Rivas)
A ideia de Ramírez é contar a história das vítimas da repressão vivida na Nicarágua. Não se sabe quando a próxima obra do ganhador do Prêmio Cervantes vai ficar pronta.
"Quero contar sobre vidas humanas. Entre as 400 pessoas assassinadas, há muitíssimas histórias."
"Há meninos assassinados de 14, 15 anos que tinham uma vida inteira pela frente. Mortos com fuzis lutando por um país livre."
Mapa da Nicarágua (Foto: G1 )Mapa da Nicarágua (Foto: G1 )
Mapa da Nicarágua (Foto: G1 )
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