O Globo Rural mostrou neste domingo (31) uma atividade tradicional de comunidades de origem japonesa no Brasil: o cultivo do chá. A planta foi trazida por imigrantes e chegou a ser a principal cultura de uma região agrícola de São Paulo.
O Vale do Ribeira, no sul de São Paulo, se destaca pelo cultivo de banana, pelo plantio de pupunha e por ter várias reservas ambientais, com milhares de hectares de Mata Atlântica preservada. A região também é famosa pela imigração japonesa.
A cerimônia do chá é uma tradição que veio para o Brasil com os imigrantes. Em
Registro, na Associação de Cultura Nipo-Brasileira, enquanto um homem, vestido à caráter, prepara a bebida, duas mulheres, também com roupas típicas, vão servindo os convidados. O ritual se baseia em princípios japoneses, como respeito e harmonia.
O chá foi trazido para a região na década de 30, como explicou o agrônomo Rubens Takeshi Shimizu. A atividade se expandiu rapidamente e o Vale do Ribeira chegou a ter 5.000 mil hectares de cultivo, 600 produtores e cerca de 40 indústrias processando chá – 90% da produção ia para o mercado externo.
A cultura, que alavancou o desenvolvimento da região, começou a decair na década de 90, com a cotação do dólar em baixa e a concorrência do chá importado, que chegava ao Brasil com um preço mais baixo. Aos poucos surgiram lavouras abandonadas, desemprego, decepção.
Com a crise, o chá que era um dos orgulhos do Vale do Ribeira quase desapareceu da região. Mas ainda tem gente que acredita no cultivo. Aos 90 anos e com uma disposição invejável, Elizabeth Shimada é conhecida como ‘Obaatian’ – vovó em japonês. Ela herdou o sítio dos pais, que já cultivavam chá, mas tinham abandonado a atividade nos anos de crise.
Mesmo com dificuldade para se locomover, ela cuida de cada detalhe da lavoura. Orienta os funcionários para manter as entrelinhas limpas, para fazer a poda e deixar a planta baixa. Também ajuda na colheita, que ocorre de setembro a maio.
Perto da família Shimada, ainda em Registro, moram dois irmãos e um primo da família Amaya. No auge da atividade, eles chegaram a ter 170 hectares plantados. Com a crise, reduziram a área para 50. Nos últimos anos voltaram a crescer.
Famílias como Amaya e Shimada são exceções na região. O grosso dos chazais do Vale foi abandonado nas últimas décadas. Parte virou pupunha, banana ou pasto e outra parte tomada pelo mato.
Chá sombreadoO agricultor Kazutoshi Yamamaru tinha 25 hectares de chá em um sítio em
Sete Barras. Fez sua última colheita em 1996 e desistiu da atividade.
Mas em 2015 resolveu retomar o cultivo de maneira inovadora. Ele começou a apostar no chá sombreado, num modelo agroflorestal. Manteve as árvores nativas, que rebrotaram, e limpou apenas a vegetação baixa, que atrapalhava o cultivo.
A agroflorestal é experimental e conta com apoio de ONGs e entidades públicas como a CATI – o órgão paulista que dá assistência técnica aos produtores.
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