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G1 globo.com
27/09/2016 20h11 - Atualizado em 27/09/2016 20h12
Especialistas apontam plantio de árvores como solução da seca
Medida de longo prazo reverte a crise hídrica em dez anos.
Para especialistas em dois anos os resultados são vistos.
Katilaine Chagas e Vilmara FernandesDe A Gazeta
Rio Santa Maria da Vitória no distrito de Recreio, no ES (Foto: Marcelo Prest/ A Gazeta)
Plantio de árvores. Essa é a solução apontada por especialistas para sair da crise hídrica que atinge o Espírito Santo. Em maio, o governo do estado decretou situação emergência por causa da estiagem.
Uma solução de curto e longo prazo, o reflorestamento é posto por especialistas como algo que precisa ser posto em prática para que o estado consiga reverter a situação de déficit hídrico que já levou várias cidades ao racionamento, inclusive as da Grande Vitória.
O engenheiro florestal e doutor em Ecologia, Renato Moraes de Jesus, ressaltou que começar a plantar árvores é um dos passos mais importantes. Se em cada dia for plantado meio hectare de árvores, o que equivale a meio campo de futebol, por cem mil agricultores, em um ano teremos 50 mil hectares. “Se fizermos isto, em dez anos teríamos 500 mil hectares de floresta. Um bom começo”.
Com cerca de dois anos, as mudas vão ter de dois a três metros, isso vai ajudar a acabar com a impermeabilização do solo. “A gota de chuva não cairá direto no solo, mas vai na folha, no tronco e chega ao solo em uma velocidade menor, o que ajuda na infiltração. Não escorre, lavando o solo”, relata Moraes de Jesus.
Para Renato, a prioridade seria para as matas ciliares, que ficam ao longo das margens dos rios e nascentes, e os topos de morro, que são as áreas de recarga.
“Chove no estado cerca de 1.200 milímetros por ano e 60% desta chuva seria absorvida pelo solo, se tivesse floresta”, pondera o engenheiro.
Desmatamento
“O Espírito Santo já chegou a ter 90% de sua área coberta por florestas. Desmataram tudo e estamos vendo o resultado”, assinala o engenheiro, lembrando que em 2013 toda a água da enchente que assolou o estado foi perdida.
“O Espírito Santo já chegou a ter 90% de sua área coberta por florestas. Desmataram tudo e estamos vendo o resultado”, assinala o engenheiro, lembrando que em 2013 toda a água da enchente que assolou o estado foi perdida.
Na avaliação dele os agricultores seriam os responsáveis pelo plantio. “Não chega a um dia de trabalho”, pontua Renato. Mas caberia ao governo o custo das mudas, dos insumos e da tecnologia. Mas a cidade também teria que pagar o preço. “Consomem o que não produzem e há um custo”, destaca.
Ações
O presidente do Fórum Estadual dos Comitês de Bacias Hidrográficas, Élio de Castro, destaca que até que as florestas consigam mudar o atual cenário de escassez, é preciso aprender a conviver com pouca água. “A tarefa é aprender o uso racional. E pôr em prática algumas medidas importantes”.
O presidente do Fórum Estadual dos Comitês de Bacias Hidrográficas, Élio de Castro, destaca que até que as florestas consigam mudar o atual cenário de escassez, é preciso aprender a conviver com pouca água. “A tarefa é aprender o uso racional. E pôr em prática algumas medidas importantes”.
Há mudanças que começam no campo, com o uso de equipamentos mais eficientes para a irrigação, que economizem água. “Somos o segundo Estado que mais irriga no Brasil. E ainda estamos muito atrasados na tecnologia. Temos que utilizar, por exemplo, espécies (plantas) que sejam produtivas, mas que consumam menos água”, pondera.
Outras ações passam pela cidade, com o reaproveitamento da água da chuva,que atualmente é descartada. “É inconcebível a construção civil lançar mão de água tratada para fazer seus prédios”, destaca Castro.
Ações que dependem de mudanças na legislação.
Outro ponto importante é a gestão plena dos comitês de bacias hidrográficas, os responsáveis por cuidar dos mananciais. E isto inclui a cobrança pelo uso da água, recursos que vão ajudar na recuperação dos rios.
Outro ponto importante é a gestão plena dos comitês de bacias hidrográficas, os responsáveis por cuidar dos mananciais. E isto inclui a cobrança pelo uso da água, recursos que vão ajudar na recuperação dos rios.
“A política nacional de recursos hídricos é de 1997. A estadual é de 1998. E nada foi feito até agora. Isto tem que mudar”, assinala Castro.
Curto Prazo
Consumo Redução
Adotar o uso racional da água como um hábito diário. Élio de Castro, presidente do Fórum Capixaba de Comitês de Bacias, acredita que o racionamento é uma medida de desespero diante da falta de água. Portanto, economia de água no dia a dia tem que ser uma rotina na vida de todas as pessoas.
Adotar o uso racional da água como um hábito diário. Élio de Castro, presidente do Fórum Capixaba de Comitês de Bacias, acredita que o racionamento é uma medida de desespero diante da falta de água. Portanto, economia de água no dia a dia tem que ser uma rotina na vida de todas as pessoas.
Mesmo quando chover, a recuperação dos rios será demorada e estima-se que leve de um a dois anos.
Médio Prazo
Mudança Leis
É preciso fazer mudanças em várias legislações para torná-las mais exigentes do ponto de vista sustentável. Um exemplo vem da construção civil, cujas novas edificações podem usar a água de chuva e reusar águas servidas (não fecais).
É preciso fazer mudanças em várias legislações para torná-las mais exigentes do ponto de vista sustentável. Um exemplo vem da construção civil, cujas novas edificações podem usar a água de chuva e reusar águas servidas (não fecais).
“Com um sistema hidrossanitário sustentável a economia de um prédio pode chegar a 30%”, destaca o professor do Departamento de Engenharia Ambiental da Ufes, Ricardo Franci.
“É inconcebível que a construção civil use água tratada para molhar massa, para fazer seus prédios. Tem que ser água de reúso”, acrescenta Élio de Castro. Nas cidades, relata o professor Ricardo Franci, 80% do consumo de água ocorre nos edifícios e residências.
Tarifa
O professor Ricardo Franci pondera que tarifas mais baratas estimulam o consumo ou não incentivam a economizar. Nas áreas mais nobres, onde o consumo é maior, um valor mais caro de tarifa pode ser utilizado como instrumento de controle do consumo.
O professor Ricardo Franci pondera que tarifas mais baratas estimulam o consumo ou não incentivam a economizar. Nas áreas mais nobres, onde o consumo é maior, um valor mais caro de tarifa pode ser utilizado como instrumento de controle do consumo.
Perdas
As perdas de água no sistema da Cesan chegam a 33%, ou seja, de tudo o que é captado e até tratado, um terço é perdido. O professor Ricardo Franci destaca que mesmo o índice sendo um dos menores, segundo o sistema Nacional de Informações de Saneamento, é preciso fazer uma redução drástica destas perdas no sistema de abastecimento.
As perdas de água no sistema da Cesan chegam a 33%, ou seja, de tudo o que é captado e até tratado, um terço é perdido. O professor Ricardo Franci destaca que mesmo o índice sendo um dos menores, segundo o sistema Nacional de Informações de Saneamento, é preciso fazer uma redução drástica destas perdas no sistema de abastecimento.
“Estamos longe do padrão de excelência já adotado em países que enfrentam escassez de água, como Israel, Austrália e Japão”, pondera.
Atuação
Para os especialistas, também é função da Agência Estadual de Recursos Hídricos (Agerh), cobrar as perdas dos sistemas de abastecimento. “É água jogada fora num momento em que não a temos”, assinala Ricardo Franci.
Para os especialistas, também é função da Agência Estadual de Recursos Hídricos (Agerh), cobrar as perdas dos sistemas de abastecimento. “É água jogada fora num momento em que não a temos”, assinala Ricardo Franci.
Água de Chuva
A maioria dos municípios não utiliza a água da chuva. Os sistemas de drenagem estão preparados para afastar o volume de água das cidades e ela acaba sendo jogada no mar pelas galerias pluviais.
A maioria dos municípios não utiliza a água da chuva. Os sistemas de drenagem estão preparados para afastar o volume de água das cidades e ela acaba sendo jogada no mar pelas galerias pluviais.
As chuvas podem ser utilizadas para funções menos nobres, como destaca o professor Ricardo Franci, como na lavagem de pátios, calçadas, banheiros de escolas e hospitais, irrigação de jardins. Mas seria preciso uma legislação que obrigasse todas as cidades a adotarem a mesma medida.
IPTU Verde
O objetivo é remunerar quem constrói de maneira sustentável ou introduz melhorias nas construções que levem a redução do consumo de água.
O objetivo é remunerar quem constrói de maneira sustentável ou introduz melhorias nas construções que levem a redução do consumo de água.
Reservação
Investimento em construção de reservatórios e barragens para a acumulação de água em alguns rios. O professor Robson Sarmento, da área de meio ambiente da Faculdade de Aracruz, destaca o Rio Jucu - para onde já está previsto a construção de um reservatório -, e também cita o Rio Benevente, que abastece importantes cidades do litoral, como Guarapari.
Investimento em construção de reservatórios e barragens para a acumulação de água em alguns rios. O professor Robson Sarmento, da área de meio ambiente da Faculdade de Aracruz, destaca o Rio Jucu - para onde já está previsto a construção de um reservatório -, e também cita o Rio Benevente, que abastece importantes cidades do litoral, como Guarapari.
Irrigação
Investir em equipamentos mais eficientes que evitem o desperdício de água e também em plantas/espécies que tenham produtividade, mas cujo consumo de água seja pequeno.
Investir em equipamentos mais eficientes que evitem o desperdício de água e também em plantas/espécies que tenham produtividade, mas cujo consumo de água seja pequeno.
Longo Prazo
Recuperação
Os comitês precisam implantar a gestão plena das bacias, e tem que ter instrumentos como planos de bacia, outorga e cobrança para dar início aos projetos de recuperação de seus mananciais.
Os comitês precisam implantar a gestão plena das bacias, e tem que ter instrumentos como planos de bacia, outorga e cobrança para dar início aos projetos de recuperação de seus mananciais.
Cobrança pelo uso da água
Um dos instrumentos de ação do comitê é cobrar pelo uso da água. “Não é cobrança por cobrança, mas para que o comitê tenha recursos para investir na recomposição das bacias”, explica Élio de Castro, presidente do Fórum Capixaba dos comitês de Bacias.
Um dos instrumentos de ação do comitê é cobrar pelo uso da água. “Não é cobrança por cobrança, mas para que o comitê tenha recursos para investir na recomposição das bacias”, explica Élio de Castro, presidente do Fórum Capixaba dos comitês de Bacias.
Plantar Árvores
É a alternativa para garantir a recuperação do lençol freático (água no subsolo), que a água chegue aos rios e não seja arrastada diretamente para o mar e a recuperação do solo. Mas, segundo o engenheiro florestal Renato de Jesus, é preciso começar a plantar imediatamente.
É a alternativa para garantir a recuperação do lençol freático (água no subsolo), que a água chegue aos rios e não seja arrastada diretamente para o mar e a recuperação do solo. Mas, segundo o engenheiro florestal Renato de Jesus, é preciso começar a plantar imediatamente.
Os reflexos começarão a ser sentidos a partir de uns dois anos ou mais, quando as árvores tiverem por volta de uns dois metros. Vão começar a reter água no solo, começando a reverter o atual processo de impermeabilização.
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