domingo, 31 de julho de 2016

Impeachment: senadores indecisos explicam por que não se posicionam


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G1 globo.com

31/07/2016 06h00 - Atualizado em 31/07/2016 06h00

Impeachment: senadores indecisos explicam por que não se posicionam

Julgamento final de afastamento de Dilma deve ter início no final de agosto.
Aprovação do impeachment exige os votos de pelo menos 54 senadores.

Gustavo GarciaDo G1, em Brasília
A menos de um mês do provável julgamento final do processo de impeachment, senadores ouvidos pelo G1 que ainda se dizem indecisos afirmam que o panorama político-econômico melhorou com a entrada do presidente em exercício Michel Temer, mas aguardam os próximos passos antes de adotar uma posição sobre o afastamento definitivo de Dilma Rousseff.
O impeachment está na fase intermediária, na qual os senadores devem dizer se Dilma deve ou não ir a julgamento final. Nesta semana, encerram-se os trabalhos da comissão especial que analisa o caso, com a votação do relatório de Antonio Anastasia (PSDB-MG) na quinta-feira (4).
Depois, no dia 9, o plenário principal do Senado deve analisar o parecer. Se a maioria simples (metade dos presentes mais um, desde que estejam presentes pelo menos 41 senadores) aprovar um eventual relatório dizendo que a denúncia de crime de responsabilidade contra Dilma procede, o caso vai para a última fase.
Do ponto de vista político, [a entrada de Michel Temer] distensionou a crise, mas apenas distensionar politicamente não resolve os problemas do Brasil."
Senador Eduardo Braga (PMDB-AM)
Nos bastidores, aliados da presidente afastada admitem não ter votos suficientes para evitar que o processo vá a julgamento final, no qual apostam as últimas fichas. Segundo previsão do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), o julgamento deve ter início entre os dias 25 e 27 de agosto e pode durar de quatro a cinco dias, com intervalos entre um dia e outro.
São necessários 54 votos para que o impeachment seja aprovado. Na primeira votação, 55 senadores votaram pela abertura do processo pelo Senado. A margem favorável à cassação é pequena, o que dá mais peso aos votos dos indecisos.
Entre os que dizem ainda não ter tomado uma decisão, está o senador Eduardo Braga (PMDB-AM), ministro de Minas e Energia no governo Dilma.
Para o peemedebista, no plano jurídico, não houve crime de responsabilidade de Dilma Rousseff, mas o processo de impeachment também é político, o que complica a situação da petista.
Julgar o mérito é uma questão muito pessoal. Nós estamos no Senado como juízes. Não é uma questão partidária [...] Não tenho problema em não seguir a orientação do partido. Claro que sinto muito se isso acontecer, mas, se eu entender que o melhor para o Brasil é algo diferente do que o partido pensa, eu vou no meu pensamento"
Senador Acir Gurgacz (PDT-RO)
“Eu nunca me imaginei em uma situação de definição política como essa, porque esse impeachment, antes de mais nada, é um processo político. Eu não vejo, na presidente, o dolo e o crime de responsabilidade para um impeachment por aspectos jurídicos, mas o processo é também político”, disse Braga.
“Do ponto de vista político, [a entrada de Michel Temer] distensionou a crise, mas apenas distensionar politicamente não resolve os problemas do Brasil. Mas ajuda”, completou.
O senador disse ainda que “reconhece” suas relações históricas com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e com Dilma, a quem foi “leal”, mas lembrou que é membro da executiva nacional do PMDB, partido de Michel Temer e tem bom relacionamento com o presidente em exercício.
Eduardo Braga solicitou licença-médica e não compareceu, em maio, à votação que determinou a abertura do processo de impeachment.
Questão pessoal
Outro senador que afirma ainda não ter decidido como vai votar no julgamento final do impeachment é Acir Gurgacz (PDT-RO). O parlamentar, que votou pela abertura do processo, diz que é “indelicadeza” ir para um julgamento com posicionamento já tomado.
O PDT, partido de Gurgacz, é aliado de Dilma Rousseff e tem recomendado que seus parlamentares votem contra o impeachment. O senador, no entanto, diz que não terá problema em não seguir uma orientação do partido.
Não entendo como tem senador que não precisou esperar o parecer de Anastasia para se posicionar. Como vou julgar antes de ver o processo em andamento?"
Senador Cristovam Buarque (PPS-DF)
“Julgar o mérito é uma questão muito pessoal. Nós estamos no Senado como juízes. Não é uma questão partidária [...] Não tenho problema em não seguir a orientação do partido. Claro que sinto muito se isso acontecer, mas, se eu entender que o melhor para o Brasil é algo diferente do que o partido pensa, eu vou no meu pensamento”, explicou o senador.
Na mesma linha, João Alberto (PMDB-MA) disse, sem especificar, que votou contra a abertura do processo de impeachment por “questões pessoais”, mas que só vai decidir seu voto no dia do julgamento final.
Aliança regional
O senador Elmano Férrer (PTB-PI) disse que votou contra a abertura do processo de impeachment devido a uma aliança que mantinha com o PT no Piauí e porque seus eleitores sinalizaram que eram contra o afastamento de Dilma Rousseff. Elmano disse que a entrada de Temer melhorou o diálogo do Planalto com o Congresso.
“Em pouco tempo, já tive mais encontros com Temer do que tive com Dilma”, comparou. O parlamentar, no entanto, disse que quer “aguardar” para tomar a decisão.
‘PT precisa do impeachment’
O senador Cristovam Buarque (PPS-DF) disse aguardar o relatório de Anastasia para se posicionar sobre a cassação de Dilma Rousseff.
“Não entendo como tem senador que não precisou esperar o parecer de Anastasia para se posicionar. Como vou julgar antes de ver o processo em andamento?”, questionou o parlamentar.
A economia teve um alento com a entrada de Temer. Claro, que ninguém vai transformar a grave situação do país de uma hora para outra, mas é possível que as coisas continuem melhorando, com aumento da credibilidade. Precisamos de uma estabilidade política."
Senador Roberto Rocha (PSB-MA)
Cristovam Buarque, que votou pela abertura do processo de impeachment, também acredita que a situação do país melhorou com Temer na presidência, principalmente no setor econômico.
Por telefone, o senador do Distrito Federal criticou o discurso de petistas de que o processo de afastamento é “golpe”.
“As ‘pedaladas’ eu não sei se são crime, mas a presidente cometeu o crime de espalhar pelo mundo a ideia de que o impeachment é golpe. Isso foi crime e é um crime do qual estou sendo vítima. Estou ouvindo muito, me escrevem, protestam – por enquanto com respeito – porque eu ainda não votei”, contou Cristovam.
O senador, que já foi filiado ao PT, disse que o melhor para o partido é a aprovação do impeachment.
“O PT será ou mais forte, ou menos fraco, se houver o impeachment. Sem o impeachment, a Dilma volta, compondo um novo ministério, a economia vai se arrebentar por falta de credibilidade. Ela não tem mais nenhum apoio quase no Congresso. Como vai ficar o PT?”, indagou.
Para o senador, “se o impeachment passa, o PT vai para a oposição. Todos os desastres criados pelo governo Dilma, os petistas vão colocar nas costas do Temer: o desemprego, a crise dos estados. E ainda vão pregar a bandeira do golpe. O PT pode ressuscitar graças ao impeachment. Mas eu não vou levar isso em consideração na hora do voto. Eu vou votar pelo Brasil”, afirmou.
Tendência
O senador Roberto Rocha (PSB-MA) rejeita o rótulo de indeciso. Ele diz que prefere não divulgar como vai votar para não fazer um pré-julgamento, mas afirma já ter tomado sua decisão. A “tendência”, segundo afirmou, é votar a favor da cassação de Dilma, seguindo orientação de seu partido.
“A economia teve um alento com a entrada de Temer. Claro, que ninguém vai transformar a grave situação do país de uma hora para outra, mas é possível que as coisas continuem melhorando, com aumento da credibilidade. Precisamos de uma estabilidade política”, opinou Rocha.
G1 entrou em contato com outros senadores que se dizem indecisos na questão do impeachment. O suplente de Walter Pinheiro (sem partido-BA) – que votou contra a abertura do impeachment –, Roberto Muniz (PP-BA), não quis comentar o tema, assim como, Eduardo Lopes (PRB-RJ), suplente de Marcelo Crivella.
Já os senadores Jader Barbalho (PMDB-PA) – que não compareceu à primeira votação do impeachment – e Romário (PSB-RJ) não atenderam às ligações.

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