A autorização do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para que os ex-marqueteiros João Santana e Monica Moura sejam ouvidos no processo da chapa Dilma-Temer pegou os advogados de defesa de surpresa.

Diferentemente do depoimento de Guido Mantega, um pedido do PT, as oitivas do casal do marqueteiro não são bem-vindas pelas defesas de Dilma e Temer.

Motivo: os advogados ouvidos pelo blog avaliam que João Santana e Monica Moura vão confirmar o recebimento de caixa dois, delatado pela Odebrecht, para a campanha de 2014. Também vão discorrer sobre pagamentos para campanhas do PT de 2008 a 2012, além da campanha presidencial de 2010.

Para fora do âmbito eleitoral, temem ainda revelações sobre a era Lula. O casal também atuou no marketing do ex-presidente Lula. 

Um advogado do processo observou em conversa com o blog nesta terça-feira que o casal é personagem constante da manifestação final do Ministério Público Eleitoral, que pede a cassação da chapa Dilma-Temer, e que está sob sigilo.

A GloboNews teve acesso ao documento, enviado ao TSE.

Nesse processo, o MP atua como fiscal da lei. Foi o MP que pediu que João Santana e Monica fossem ouvidos na ação do TSE.

Para os advogados, os depoentes devem confirmar os pontos listados pelo Ministério Público no documento.

OS PRINCIPAIS PONTOS, PARA O MP ELEITORAL
O blog listou os principais pontos apontados pelo Ministério Público Eleitoral:

- Relação com João Santana: segundo Marcelo Odebrecht, a relação começou em 2008, quando o ex-ministro Antonio Palocci o procurou para tratar de contribuições para a campanha de 2008. "Ele pediu ao depoente que desse garantias a João Santana de um pagamento entre R$ 15 e R$ 18 milhões. O depoente avisou a Palocci que não lidava com campanhas municipais, somente com as presidenciais. Assim, eles acertaram um valor para a campanha de 2010, e tudo o que fosse pedido por Palocci antes, seria descontado desse valor".

- Campanhas de 2008 a 2012: Marcelo Odebrecht disse que o grupo pagou João Santana por serviços prestados para as campanhas municipais de 2008 a 2012, para a campanha de 2010 e até mesmo por serviços prestados em campanhas no exterior que o PT tinha interesse em ajudar. Ou eram pagamentos via oficial, através de doações para o PT, ou caixa dois, no Brasil ou exterior. 

- Guido Mantega e João Santana: Marcelo afirmou que Dilma disse a ele que assuntos de contribuições deveriam ser tratados diretamente com Mantega. "Agora, a única coisa que eu.. é claro.. eu não sei especificar o momento em que eu tive essa conversa com ela, mas isso sempre ficou evidente, é que ela sabia dos nossos pagamentos a João Santana. Isso eu não tenho a menor dúvida". 

- Dilma e caixa dois: O MPE diz que Marcelo Odebrecht reafirmou entender que Dilma sabia dos pagamentos a João Santana via caixa dois: "a ilicitude, no caso da campanha dela, está na questão do que ela sabia do João Santana e do caixa dois. (..) Marcelo dizia a Dilma, sobre João: "Olha, aquele seu amigo está sendo bem atendido". 

- R$ 20 milhões em 2014: MPE diz que na operacionalização dos recursos do esquema da  Odebrecht, "ficou comprovado o pagamento, via caixa dois, pela Odebrecht, em agosto de 2014, de vinte milhões de reais, tendo como destinatária Monica Moura, esposa de João Santana". 

- 4,5 milhões antes, durante e depois:  "Também houve outro pagamento de $ 4,5 milhões a Monica, via caixa dois, antes, durante e logo após o período eleitoral, por Zwi Skornocki, dinheiro esse fruto da propina devido ao PT", escreveu o MPE. "Ela recebeu em pleno ano eleitoral, em parcelas pagas de novembro de 2013 a novembro de 2014, como demonstram os extratos juntados por Skornicki. Ou seja, Monica recebeu esse dinheiro antes, durante e logo após o período eleitoral". 

- Vice-procurador eleitoral, Nicolao Dino: "Não há como negar, nesse contexto, os indicativos de que tal dinheiro  ou ao menos parte dele  tenha sido utilizado para a campanha dos representados, pois, naquele momento, a principal campanha eleitoral movida pelo partido era justamente a dos representados, e João Santana se dedicava a ela naquele hiato".