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G1 globo.com
'Sempre trabalhamos com caixa 2', diz Mônica Moura ao juiz Sérgio Moro
Marqueteiro João Santana e a mulher dele foram interrogados pelo juiz federal Sérgio Moro nesta terça-feira (18). Mônica Moura disse que quis 'preservar' a então presidente Dilma Rousseff (PT) ao negar caixa 2 no exterior.
"Sempre trabalhamos com caixa 2", afirmou Mônica Moura, mulher do ex-marqueteiro do PT João Santana, ao juiz Sérgio Moro, responsável pelas ações da Lava Jato na primeira instância, durante interrogatório na Justiça Federal de Curitiba, na tarde desta terça-feira (18). Ela e o marido também confirmaram que a empresa deles recebeu dinheiro de caixa 2 em todas as campanhas políticas em que atuou. Ouça todos os depoimentos no vídeo acima.
Mônica disse, ainda, que queria "preservar" a então presidente Dilma Rousseff (PT) em depoimento prestado à Polícia Federal (PF) em 24 de fevereiro de 2016, quando negou ter recebido dinheiro de caixa 2 no exterior por campanhas realizadas no Brasil.
Ao questionar Mônica sobre o depoimento à Polícia Federal (PF), Moro lembrou que ela declarou nunca ter recebido valores no exterior relacionados a campanhas eleitorais do Brasil. Mônica confirmou que não foi totalmente sincera no depoimento à PF. O casal já tinha admitido caixa 2 na campanha de Dilma, durante depoimento em julho do ano passado.
“Nessa época, há um ano e pouco atrás, quando a gente foi preso, a gente queria preservar a presidente Dilma, que já estava em um momento complicado. O país estava em um momento complicado. E a gente não queria dizer que tinha recebido dinheiro de campanha dela, especificamente no caso de 2010. A gente não queria falar desses recebimentos. Tinha nada a ver com ela, a gente falou que era tudo no exterior, mas enfim. Era outro momento, era outra história, doutor”, afirmou.
João Santana e Mônica Moura são réus em ação penal que apura se o ex-ministro Antônio Palocci recebeu propina para atuar a favor da Odebrecht. O casal teve o acordo de delação premiada homologado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) em 4 de abril.
Caixa 2
“Todas as campanhas políticas que nós fizemos. Todas. Da Polis e antes da Polis, quando eu era apenas uma funcionária de outros marqueteiros, sempre trabalhamos com caixa 2, com recursos não contabilizados. Em todas as campanhas” afirmou Monica Moura ao juiz.
Ao responder Moro, João Santana também disse que a empresa dele recebeu pagamentos não contabilizados. “Houve constante, aliás, como é uma prática no mercado de marketing político eleitoral no Brasil e boa parte do mundo”.
Lula e a campanha em El Salvador
De acordo com João Santana, o ex-presidente Lula pediu para que ele fizesse a campanha do ex-presidente de El Salvador Mauricio Funes. O publicitário disse que imagina que o pagamento proveio da Odebrecht. O valor mencionado é de R$ 5 milhões.
“ (...) Isso se repetiu no ano de 2009. Quando nós fomos convidados para fazer essa campanha, a garantia que nos foi dada pelo PT, pelos seus representantes já citados, de que a Odebrecht faria essa pagamento”.
Mônica também relatou que, de campanhas realizadas em oito países, a única que teve a interferência do Brasil foi a de El Salvador. "Foi um pedido do presidente Lula para que a gente fosse fazer essa campanha. O Palocci disse que ajudaria a pagar e a Odebrecht pagou uma parte. As outras campanhas no exterior não têm nada a ver com o Brasil", afirmou.
Palocci
Mônica disse que a negociação do valor total da campanha era feita com Palocci. “Depois, ia à parte oficial, tratar com o tesoureiro da época. Palocci me encaminhava a quem ia me pagar o caixa 2. Era Palocci quem resolvia”, afirmou.
Depois que acertava o valor com Palocci, Mônica afirmou acertava os detalhes com a Odebrecht. "Eles sempre queriam pagar tudo no exterior. Hilberto dizia que para eles era mais seguro, eles não queriam fazer pagamentos no Brasil, movimentar dinheiro. Mas eu sempre precisava de dinheiro no Brasil. Era com a Odebrecht que a gente entrava em um acordo que parte do valor da campanha do Brasil que iria para lá e que parte pagaria aqui", acrescentou.
Palocci, afirmou Santana, era a pessoa responsável pela articulação política e financeira. João Santana relatou que nunca tratou diretamente com ninguém da Odebrecht sobre os pagamentos.
Pagamentos da Odebrecht
Santana afirmou que a relação da empresa dele com o Grupo Odebrecht começou na campanha de reeleição do ex-presidente Lula e que recebeu vários pagamentos não contabilizados da empreiteira.
“Na época, o ministro Antonio Palocci, já não era mais ministro, ele fez esse contato e uma parte do pagamento desta campanha de reeleição do presidente Lula foi feita pela Odebrecht”, relatou.
Campanhas municipais
Santana também confirmou pagamentos não contabilizados referentes às campanhas municipais, em 2008, das agora senadoras Marta Suplicy (PMDB) e Gleisi Hoffmann (PT). O valor seria de R$ 18 milhões e feitos pela Odebrecht partir do interesse do PT. Quanto o valor, Santana diz imaginar que sejam R$ 18 milhões. Segundo ele, a mulher dele poderia confirmar a cifra.
O outro lado
O advogado do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Cristiano Zanin Martins, disse em nota que delações não configuram prova. Para a defesa, os fatos narrados não indicam prática de atos ilícitos pelo ex-presidente.
“Lula não cometeu nenhum crime antes, durante ou depois de exercer o cargo de Presidente da República”, conclui a nota.
A senadora Gleisi Hoffmann (PT) disse que não solicitou contribuição à Odebrecht para campanhas eleitorais e não pediu o pagamento de contas da campanha mencionada pelos delatores.
“Todos os valores que foram recebidos como doação ou pagos aos prestadores de serviços constam das minhas prestações de contas aprovadas pelo TRE”, informou.
"A Odebrecht está colaborando com a Justiça no Brasil e nos países em que atua. Já reconheceu os seus erros, pediu desculpas públicas, assinou um Acordo de Leniência com as autoridades brasileiras e da Suíça e com o Departamento de Justiça dos Estados Unidos, e está comprometida a combater e não tolerar a corrupção em quaisquer de suas formas", afirmou a Odebrecht.
O G1 tenta contato com as outras pessoas citadas na reportagem.
Pós mensalão
João Santana afirmou que, em agosto de 2005, após a crise do Mensalão, foi chamado em Brasília pelo então presidente Lula para uma reunião. Quem acompanhou Santana, no Palácio do Planalto, segundo ele, foi Palocci.
“Encontrei ele [Lula] em um momento muito fragilizado, e ele me convidou se eu poderia ajudá-lo neste momento. Eu disse que sim. E ele, neste momento, disse ‘qualquer detalhe mais burocrático, Palocci conversa com você’ (sic)”.
Ainda de acordo com Santana, Palocci disse que a conversa era como um convite para que ele fizesse a campanha do próximo ano. O marqueteiro contou no interrogatório que falou para Palocci que esperava que o mesmo erro de financiamento ilegal de campanha, revelado pelo Mensalão, não se repetisse.
Um ano depois, de acordo com Santana, em uma nova conversa com Palocci, o ex-ministro falou que não poderia ser tudo com recurso contabilizado.
“Ele disse: olha, infelizmente, não vai poder ser tudo com recurso contabilizado por causa das dificuldades naturais, por causa da cultura existente. Mas nós temos uma empresa que dá total garantia para realização, para fazer o pagamento”.
Prisão e condenação
João Santana e Mônica Moura foram presos na 23ª fase da Lava jato e deixaram a cadeia em agosto de 2016. Os dois já foram condenados em outra ação da operação, pelo crime de lavagem de dinheiro, a 8 anos e 4 meses de prisão cada.
A acusação
O processo apura se Palocci recebeu propina para atuar em favor do Grupo Odebrecht, entre 2006 e o final de 2013, interferindo em decisões tomadas pelo governo federal. Segundo a denúncia do Ministério Público Federal (MPF), o ex-ministro também teria participado de conversas sobre a compra de um terreno para a sede do Instituto Lula, que foi feita pela Odebrecht, conforme as denúncias.
Além de Palocci, João Santana e Mônica Moura, estão entre os réus o ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto, o ex-diretor de Serviços da Petrobras Renato Duque e o ex-presidente da Odebrecht S.A. Marcelo Odebrecht.
A denúncia trata de pagamentos feitos para beneficiar a empresa SeteBrasil, que fechou contratos com a Petrobras para a construção de 21 sondas de perfuração no pré-sal. O caso foi delatado pelo ex-gerente de Serviços da Petrobras, Pedro Barusco.
As investigações mostram que o valor pago pela Odebrecht a título de propina pela intermediação do negócio chegou a R$ 252.586.466,55. Esse valor foi dividido entre as pessoas que aparecem na denúncia. Em troca disso, a empresa firmou contratos que, somados, chegaram a R$ 28 bilhões.
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