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Macron e Le Pen derrotam 'sistema' e vão ao 2º turno
Candidatos superaram os partidos mais tradicionais do país
23/04/2017 - 20H33 - ATUALIZADA ÀS 20H34 - POR AGÊNCIA ANSA
Repleto de reviravoltas, o acirrado primeiro turno das eleições presidenciais na França terminou da maneira que era mais esperada: com o liberal Emmanuel Macron, de 39 anos, e a ultranacionalista Marine Le Pen, de 48, na frente.
Com 84% das urnas apuradas, já se sabe que os candidatos do movimento de centro Em Marcha! (23,35%) e da ultranacionalista Frente Nacional (22,47%) disputarão o segundo turno da corrida pelo Palácio do Eliseu, em 7 de maio, para saber quem comandará a maior potência militar da Europa e uma das maiores economias do planeta.
O resultado da votação também marca uma derrota contundente do establishment político, que pela primeira vez na história da Quinta República, fundada em 1958, não terá um de seus dois principais partidos no segundo turno.
Desde o fim de fevereiro, quando o conservador François Fillon (Os Republicanos) passou a cair nas pesquisas, praticamente todos os levantamentos apontavam uma disputa entre Macron e Le Pen, apesar do crescimento do esquerdista Jean-Luc Mélenchon na reta final.
"Gostaria de dizer que, nesta noite, nós mudamos a cara da política francesa. Levarei adiante a exigência de otimismo e esperança que queremos para nosso país e para a Europa", declarou Macron em seu "quartel-general", em Paris.
Há três anos, ele era um desconhecido assessor do presidente François Hollande, que o alçou ao Ministério das Finanças em outubro de 2014. No comando da economia da França, Macron patrocinou uma lei para flexibilizar a legislação trabalhista no país, que acabou aprovada no ano passado, mas bastante esvaziada em relação ao texto original e após muitos protestos.
Em outubro, deixou o cargo de ministro para se concentrar no movimento Em Marcha!, que leva as iniciais de seu nome e fora criado em abril de 2016. Mas sua candidatura decolou apenas em janeiro de 2017, em uma ascensão que lembra os surgimentos de Tony Blair, no Reino Unido, e Matteo Renzi, na Itália.
Com um discurso carismático e repleto de citações filosóficas, o ex-ministro soube escapar dos extremismos e conquistar votos tanto à esquerda quanto à direita. Europeísta, liberal e ex-banqueiro, ele promete agir para reforçar a União Europeia e reduzir a intervenção do Estado na economia.
A adversária
Já Marine Le Pen era dada como certa no segundo turno, mas sua confirmação nas urnas é um sinal de alerta para a UE - ela recebeu mais de 7,2 milhões de votos, o melhor resultado na história da Frente Nacional. A ultranacionalista propõe retirar a França da zona do euro, retornando ao franco, e convocar um referendo sobre a presença do país no bloco.
Seu programa econômico é intervencionista e prevê aumento de impostos sobre a contratação de estrangeiros. Além disso, ela diz que seu primeiro ato no Palácio do Eliseu será retomar o controle sobre as fronteiras francesas. Le Pen ainda quer bloquear totalmente a imigração clandestina e limitar a entrada de imigrantes legais em 10 mil por ano.
"Vocês me levaram ao segundo turno. Estou honrada, com humildade e reconhecimento. Quero exprimir minha profunda gratidão. Esse resultado é histórico", declarou a candidata em seu comitê de campanha, em Hénin-Beaumont, no norte da França. Ela ainda citou sua votação como um "ato de orgulho francês".
Segundo as pesquisas, Macron entra como franco favorito no segundo turno: a maioria aponta uma diferença de 20 pontos entre os dois, e nenhuma delas coloca Le Pen na liderança. Também conta a favor do centrista o pouco tempo que sua rival terá para reverter a vantagem - serão apenas duas semanas até a votação de 7 de maio.
Apoio
Assim como ocorrera em 2002, quando o fundador da Frente Nacional, Jean-Marie Le Pen, perdera de lavada o segundo turno para Jacques Chirac (82% a 18%), o establishment político já está unindo forças contra sua filha.
O primeiro a declarar voto em Macron foi o candidato do Partido Socialista, Benoît Hamon, que pagou o preço da impopularidade de Hollande e terminou apenas na quinta posição (6%). "Eu faço distinção total entre um adversário político e um inimigo da República. Apelo para vencermos da maneira mais forte possível a Frente Nacional, ao votarmos por Emmanuel Macron, mesmo que ele não pertença à esquerda", disse.
Outros expoentes socialistas, como o primeiro-ministro Bernard Cazeneuve e o ex-premier Manuel Valls, derrotado por Hamon nas primárias, confirmaram seu apoio ao líder do Em Marcha!. "A presença de uma candidata de extrema direita no segundo turno das eleições presidenciais apela a uma posição forte de todos. Por essa razão, lhes peço solenemente para votarem em Emmanuel Macron", afirmou Cazeneuve.
Já Valls, que votou no liberal no primeiro turno, declarou que as pessoas devem "medir a gravidade do momento" e apoiá-lo. Por sua vez, o terceiro colocado Fillon (19,77%) disse que o extremismo não pode "levar aflição e divisão à França". "Portanto, não há escolha que não seja votar contra a extrema direita", salientou.
Representante da direita tradicional, Fillon era favorito para chegar ao segundo turno, mas acabou derrubado pelas denúncias de que teria colocado a esposa e os filhos em empregos fantasmas na Assembleia Nacional. "Malgrado todos os meus esforços, malgrado minha determinação, não consegui convencê-los. Os obstáculos colocados em meu caminho foram numerosos e muito cruéis. Com o tempo, a verdade sobre essas eleições será escrita", ressaltou.
Segurança
As eleições na França transcorreram sob clima de tensão devido à ameaça do terrorismo, agravada após o ataque da última quinta-feira (20) na avenida Champs-Élysées, em Paris. No entanto, apesar de breves evacuações em alguns colégios eleitorais por alarmes falsos, nenhum episódio grave foi registrado.
Por outro lado, a Polícia já entrou em confronto contra movimentos antifascistas que saíram às ruas da capital francesa para protestar contra o resultado das eleições. "Todos os principais candidatos, Macron, Fillon, Le Pen, estão lá apenas para perpetuar a dominação da oligarquia que confisca o poder e rouba as riquezas do povo", disse um manifestante à agência "AFP".
O candidato preferido por esses movimentos, Jean-Luc Mélenchon (França Insubmissa), terminou na quarta posição, com 19,16%, segundo os números divulgados até aqui. Ao todo, mais de 55 mil agentes das forças de ordem fizeram a segurança do pleito presidencial.
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