Um brasileiro pode defender o gol da seleção russa na Copa do Mundo de 2018. Na última reportagem da série especial sobre o país da Copa, o correspondente Marcelo Courrege mostra quem são os ídolos que fizeram a camisa 1, tradicionalmente dos goleiros, ser tão valorizada por lá.
O clube do povo russo tem devoção por heróis, seus e de todo país. Em campo, os fundadores do Spartak Moscou, os irmãos Starostin, lembram em bronze os anos dourados da União Soviética. Só mesmo o maior ídolo vivo do futebol russo para ficar à vontade entre eles, imortalizado pelo que fazia com as mãos.
Rinat Dasaev, aos 23 anos, em 1980, esteve num amistoso entre a União Soviética e o Brasil. O time dele foi o primeiro a vencer a inesquecível seleção brasileira de Telê Santana, dois a um, de virada, no Maracanã.
“Naquele jogo, o Zico perdeu um pênalti. Eu ia defender, mas a bola saiu. Eu estava em grande forma e o público mexeu comigo, eu queria mostrar tudo o que eu sabia fazer”, disse.
Dois anos depois, na estreia pela Copa da Espanha, o Brasil devolveu o placar. Dois a um sobre a União Soviética. Mas aquela seleção seria eliminada pela Itália.
“Uma vez Telê Santana me disse: se o Dasaev fosse o nosso goleiro, ganharíamos a Copa de 82”, relembra.
Ainda nos anos 80, outro goleiro russo cruzaria o caminho do Brasil. Dmitry Kharin garantiu o último título importante dos soviéticos no futebol. Ouro na Olimpíada de Seul, em 88, justamente contra a seleção brasileira.
Ao todo, foram cinco medalhas olímpicas e um título europeu. Mas a partir de 1991, com o fim da União Soviética, o futebol russo passou a viver apenas de lembranças.
A história sempre teimou em pôr frente a frente goleiros russos e craques brasileiros. Pelé tinha apenas 17 anos quando entrou pela primeira vez em campo numa Copa, a de 58, na Suécia. No gol adversário estava Lev Yashin, o responsável por uma tradição russa sem comparação no futebol mundial, em que a camisa 1 vem acima de todas as outras.
A camisa 1 do Yashin está para o futebol da Rússia como a camisa 10 do Pelé está para o brasileiro. Mesmo 47 anos após a aposentadoria da seleção, 27 anos após a morte, o Aranha Negra ainda é o principal símbolo do futebol por aqui. Isso já dá uma noção da responsabilidade que é defender o gol da Rússia, ainda mais de verde e amarelo.
Aos 21 anos, Guilherme saiu do Clube Atlético Paranaense para defender o Lokomotiv Moscou. Em dez anos, se naturalizou e tem grandes chances de ser o goleiro russo na Copa do Mundo.
“O campeonato brasileiro é totalmente oposto. Aqui é um jogo muito mais compacto. Uma coisa que eu aprendi aqui com o passar do tempo é que eles dão importância para a defesa jogar no zero”, disse.
“Jogar no zero” significa não levar gol. Em um país que passou por tantas guerras, se defender sempre foi levado muito a sério.
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