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15/05/2017 07:54 horas .
Fonte de informação
G1 globo.com
Após a residência, novo desafio dos médicos é montar rede de contatos e garantir o ‘ganha-pão’
Depois de seis anos de graduação, dois de residência geral e dois de residência específica, cirurgião fala sobre os próximos passos da carreira.
Por Ana Carolina Moreno e Tatiana Regadas, G1
No mês que vem, Miller Barreto completa dez anos dedicados ao estudo da medicina. Ele lembra a data exata em que começou o curso de graduação: 6 de agosto de 2006, na Universidade Federal do Ceará (UFC), em Fortaleza. Aos 28 anos e em seu último semestre da segunda residência médica (uma especialização dentro da carreira), ele já é chamado de "doutor", já caminha vestindo seu jaleco pelo complexo hospitalar das Clínicas, na Zona Oeste de São Paulo, já mantém um cronograma frenético de trabalho, com cirurgias agendadas e plantões onde pode ser acionado para operar um paciente de urgência. Mas ele resume seu futuro imediato em uma só frase: "2018 é o ano em que vou estar desempregado". (saiba mais sobre a rotina dele no vídeo acima)
Embora a afirmação tenha um tom de brincadeira, Barreto, que faz residência em cirurgia do aparelho digestivo, explica que, após concluírem a residência, os médicos começam uma fase completamente nova na carreira.
"Quando acaba tudo, você começa realmente a pensar: 'não, não sou mais residente, sou um cirurgião formado, trabalhando para me sustentar'. O primeiro caminho natural é que todo mundo entre em um convênio. Os convênios são muito fortes no Brasil, se não entrar em um convênio, você acaba perdendo cliente. E o repasse dos convênios para os médicos é indigno, é muito pouco. Não condiz com a formação que o cara teve", afirmou ele, em entrevista ao G1.
Por isso, Miller explica que existe uma "evolução natural" na carreira médica. "À medida que você vai angariando pacientes, que as pessoas vão criando confiança em você, a tendência é sair do convênio e começar a atender no particular."
Enquanto isso não acontece, os médicos precisam se dedicar a conseguir pacientes, montar consultórios ou conseguir empregos em hospitais públicos e privados, ou em empresas. Miller afirmou que é comum os ex-residentes continuarem frequentando os hospitais, acompanhando cirurgias e tentando formar uma rede de contatos para seguir avançando na profissão.
Bolsa de especialização
No caso de Barreto, isso deve acontecer no ano que vem. Fazendo um retrospecto da carreira, ele afirma que passou a última década dentro de um percurso que envolveu uma série de estágios e rodízios em áreas diferentes, mas com uma certa estabilidade que, após o fim da residência, chega ao fim.
Uma opção possível, também, segundo ele, é buscar uma bolsa de "fellow", como são conhecidas as outras especializações que os médicos fazem após a residência. "É como se fosse o ápice da residência: acabou a residência e o 'fellow' é um ano para você realmente se especializar no que quer."
Em geral, porém, o cirurgião explica que a tendência é que os médicos mantenham vínculos informais à universidade, em grupos das áreas nas quais pretendem focar sua carreira. "Aqui na USP, quando você acaba a residência, escolhe uma área de mais afinidade e se junta àquele grupo. Não com vínculo direto, você fica acompanhando, aprofundando mais naquela área ali, sempre estudando e tudo mais. Não é uma residência propriamente dita, mas concomitantemente a isso você vai levando a vida de cirurgião."
Tecnologia
No caso de um especialista em cirurgia do aparelho digestivo, Barreto afirma que é possível se aprofundar em técnicas específicas da área, mas o "ganha-pão" da vida do profissional são as cirurgias de vesícula e hérnia, "cirurgias mais simples e com frequência maior". Outras áreas possíveis dentro dessa residência são cirurgias de obesidade, no fígado, pâncreas e cólon, entre outros. Ele lembra ainda que o câncer do intestino grosso é o segundo mais comum na população, atualmente.
Os cirurgiões do aparelho digestivo também se beneficiam da tecnologia, que tem facilitado cada vez mais a vida dos médicos com o desenvolvimento de técnicas cada vez menos invasivas.
"Não é só mais um exame diagnóstico, é cada vez mais um exame terapêutico", explica ele sobre técnicas como a endoscopia e a colonoscopia. "Você acaba conseguindo fazer procedimentos em que antigamente era necessário fazer cirurgia. Você consegue fazer vários exames durante o dia. Chega, faz e vai embora."
Vida tranquila x altos ganhos
Para Barreto, que está prestes a entrar de vez neste mercado, atualmente há uma tendência nos médicos a optarem por especialidades que permitem uma qualidade de vida maior, principalmente em termos de tempo livre. Ele diz que o mercado de trabalho acaba influenciando a escolha da residência.
"O pessoal está priorizando muito a questão da qualidade de vida. O cirurgião tem aqueles horários malucos, às vezes tem que operar o paciente de madrugada. Então é uma especialidade difícil de conciliar com a vida pessoal, realmente é uma rotina meio massacrante", diz ele.
"Atualmente a gente está percebendo que as pessoas estão tentando especialidades que são mais tranquilas. Claro, se puder conciliar com um ganho financeiro grande, é ideal. Tem muita gente buscando áreas como dermatologia, psiquiatria, coisas relativamente tranquilas. Cirurgia plástica continua sendo bastante procurada, porque são cirurgias relativamente rápidas, pequenas, que dão poucas complicações, e o retorno financeiro é bem bom, porque geralmente são pacientes com alto status financeiro e dispostos a pagar por aquilo. A urologia também é muito procurada, porque tem uma demanda grande e cirurgias rápidas."
A estratégia de buscar mercados de trabalho com alta demanda e poucas complicações, porém, não garante 100% de sucesso profissional, e sempre vai demandar esforço para consolidar um nome de confiança na área deseja. "Garantia a gente nunca tem", afirma o cirurgião, "mas não conheço nenhum cirurgião que tenha pelo menos uns cinco seis anos de formado e que esteja mal de vida."
GUIA DE CARREIRAS: MEDICINA
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