Duas notícias foram destaque em astronomia nesta semana que passou: a descoberta de uma estrela do tamanho de Saturno, isso mesmo, uma estrela do tamanho de Saturno e resultados muito interessantes sobre o ciclo de atividade magnética do Sol. Mas nada como um sobrevoo de uma nave espacial sobre o maior e mais duradouro furacão do Sistema Solar.


A nave Juno, que já está há um ano orbitando Júpiter, executa sobrevoos periódicos no planeta. Mais ou menos a cada 2 meses a nave se aproxima bastante do planeta e chega a passar a 2 mil km de altura em relação ao topo das nuvens visíveis. Esse ponto é, tecnicamente falando, o perijove. Um sobrevoo desses dura coisa de uma hora e depois a nave passa o resto dos dois meses super afastada de Júpiter – o ponto mais distante se chama apojove. Nos planos iniciais da Juno, ela deveria dar esses rasantes a cada 14 dias, mas um problema numa das válvulas de hélio que iriam fazer a correção dessa órbita maior para entrar na órbita de ciência, fez com que os engenheiros da missão decidissem não arriscar perder a nave. Com isso a Juno permaneceu na chamada órbita de transferência, muito maior que a de ciência, sem prejuízo dos objetivos científicos da missão. O único porém é que os perijoves que iriam acontecer a cada 2 semanas, com essa mudança, ocorrem a cada 2 meses.


A órbita da Juno é sincronizada com a rotação de Júpiter, de modo que a cada passagem ela “enxerga” uma faixa de sua atmosfera. Depois de efetuar todas as órbitas programadas a nave terá varrido toda a camada superior da atmosfera joviana. E na sua última órbita a Juno vai mergulhar nas nuvens de Júpiter para ser esmagada pela alta pressão atmosférica.


A órbita efetuada na segunda feira dessa semana fez a nave se aproximar de Júpiter pela sexta vez, chegando a apenas 2200 km do topo das nuvens. Durante os perijoves a nave usa seus instrumentos para estudar a estrutura da atmosfera até uns 500 km para dentro das nuvens. Usando microondas será possível determinar com precisão o perfil de pressão e temperatura da atmosfera superior de Júpiter.


O mais legal dessa órbita é que ela foi programada para fazer com que a Juno sobrevoasse a Grande Mancha Vermelha de Júpiter, fazendo-a passar a apenas 9 mil km de altura! A mancha vermelha é na verdade um imenso furacão observado sistematicamente desde 1830, mas há relatos dela que remontam desde a metade do século 17. Os ventos na grande mancha devem atingir 640 km/h e sua largura é de aproximadamente 30% maior que o diâmetro da Terra. Todavia ela já foi muito maior que isso, a questão de 30 anos seu tamanho era tão grande que seria possível enfileirar cinco Terras! As evidências mostram que ela está encolhendo, mas até agora ninguém sabe porquê.


Astrônomos na Terra observaram a mancha vermelha alguns dias antes da Juno fazer seu sobrevoo para preparar os instrumentos. Essa imagem é uma composição de imagens obtidas com uma câmera infravermelha no telescópio Gemini, um dos muitos localizados no Havaí. Com os dados dessa imagem é possível ver que a temperatura dentro da mancha é menor que a do resto da atmosfera. Aliás, a atmosfera joviana, de uma maneira geral, está se aquecendo. Quanto mais ao centro, mas fria é a mancha. Além disso, essas imagens mostram que dentro do furacão há outros furacões!


Observatório Gemini

Crédito: Observatório Gemini

Com essas informações, a Juno efetuou seu sobrevoo na madrugada do último dia 11 com todos os seus instrumentos preparados para estudar a grande mancha, inclusive a JunoCam, a câmera embarcada para obter imagens para divulgação científica. Todos os dados foram armazenados no computador de bordo e começaram a ser transmitidos no dia seguinte, nesta quarta feira (12). Os dados  de microondas serão analisados e ainda vai levar um tempo para serem divulgados. A principal questão a ser respondida é, como a alta atmosfera de Júpiter sobre a mancha vermelha tem a mesma temperatura que a alta atmosfera da Terra. Como isso é possível mesmo Júpiter estando a uma distância do Sol 5 vezes maior que a distância da Terra ao Sol? Ao que parece tem a ver com a turbulência das nuvens dentro da mancha.


As informações de microondas demoram um pouco para aparecer, mas as imagens da JunoCam já estão na rede! São imagens de tirar o fôlego que mostram em detalhes impressionantes os furacões dentro do furacão. Essa é uma das imagens enviadas pela Juno que foram tratadas por um “astrônomo cidadão”. Desde o princípio, a ideia da JunoCam era essa, assim que as imagens fossem transmitidas pela nave, elas seriam colocadas na internet para quem quisesse usá-las. Muita gente faz o download das imagens, mexe no contraste e brilho para revelar estruturas mais sutis, como detalhes das nuvens. Depois manda as imagens para a NASA que se encarrega divulgá-las para o mundo.


NASA/Jason Major

Crédito: NASA/Jason Major

Outro aspecto que o time da Juno pretende desvendar com os dados de microondas é a questão das cores das nuvens e como elas se misturam. A composição química delas, que é o que define suas cores, é bem conhecida, vapor d'água, hélio, hidrogênio, amônia e hidrossulfeto de amônia, mas como essas substâncias reagem entre si nas condições de temperatura, pressão e radiação de Júpiter ainda é um mistério.


Ainda tem um caminhão de dados para chegar à Terra e muita coisa interessante ainda vai aparecer. Enquanto isso não acontece, que tal fazer uma visitinha no site da Juno para baixar algumas imagens e tentar tratá-las você mesmo?