segunda-feira, 17 de abril de 2017

Um mês após Operação Carne Fraca, JBS e BRF perdem R$ 5 bi em valor de mercado

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Um mês após Operação Carne Fraca, JBS e BRF perdem R$ 5 bi em valor de mercado

Analistas ainda avaliam impactos das investigações nos preços da carne e nas margens de lucro das empresas; novos testes de qualidade foram exigidos por importadores.

Desde o início da Operação Carne Fraca até a quinta-feira (13), a JBS e a BRF perderam juntas R$ 5,471 bilhões de seu valor de mercado, segundo a empresa de informações financeiras Economatica. Apesar de toda a repercussão negativa do caso que completa um mês nesta segunda-feira (17), as exportações de carne brasileira aumentaram em março. O preço da carne, no entanto, caiu.
No mercado financeiro, a JBS foi a mais penalizada e perdeu 15,35% do seu valor, que era R$ 32,6 bilhões antes da operação e encerrou o ultimo pregão valendo R$ 27,6 bilhões. A BRF perdeu 1,45% do seu valor, que passou de R$ 31,9 bilhões para R$ 31, 5 bilhões.
Os analistas de mercado que acompanham o setor ainda têm dúvidas sobre como o dano à imagem da carne brasileira poderá impactar no preço do produto e na margem de lucro das empresas.
“Ainda há muitas questões para serem esclarecidas para que possamos medir o real impacto dos embargos em volumes, preços, margens e geração de caixa das companhias do setor”, afirmaram os analistas do Banco do Brasil, em relatório.
Para o diretor da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), Francisco Turra, a força-tarefa internacional do Brasil para recuperar a credibilidade dos importadores deve elevar os custos dos produtores, já que as carnes deverão passar por novos procedimentos preventivos antes de deixar os portos.
“Exames que antes eram aplicados apenas em amostragem de carnes, agora serão realizados em todos os produtos. Além disso, a carga vai demorar mais para sair do país por passar por mais vistorias. Quem paga essa conta é o exportador”, explica o diretor.
A União Europeia, por exemplo, já anunciou que enviará após o feriado de Páscoa uma comitiva para inspecionar os frigoríficos brasileiros.

Operação Carne Fraca

Há um mês, a Polícia Federal deflagrou a operação Carne Fraca, que investigou irregularidades em 21 frigoríficos brasileiros. Eles são suspeitos de pagar propina a fiscais sanitários do Ministério da Agricultura e a vender carne de má qualidade.
Após o escândalo, alguns países anunciaram restrições à importação de carnes brasileiras. Alguns dos nossos maiores compradores, como China e Hong Kong chegaram a suspender totalmente a entrada de carne brasileira. Um mês depois da operação, a lista de países com restrição total à importação de carne brasileira inclui 17 países, como Argélia, Angola e Bahamas, mas nenhum deles figura entre nossos maiores compradores.
Os grandes compradores, como China, União Europeia e Emirados Árabes Unidos, mantêm uma restrição apenas à carne dos 21 frigoríficos investigados pela Operação Carne Fraca.
A retomada das importações pelos grandes compradores ajudou a manter a normalidade na balança comercial. As exportações de carne brasileira fecharam o mês de março em alta na comparação com o ano anterior. Segundo o Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MDIC), a exportação de carnes de frango, bovina e suína, juntas, somaram U$1,34 bilhão, o que representa uma alta de 9%.
Na primeira semana de abril, dados até o dia 9 de abril, a média de venda de carne por dia útil foi de US$ 57,021 milhões. Em todo o mês de abril de 2016 essa média diária foi de US$ 58,529 milhões.
A Associação Brasileira de Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec), que representa os fabricantes de carne bovina, mantém as projeções para este ano. “As projeções indicam crescimento das exportações de carne bovina em 2017, sendo 9% em faturamento e 11% no volume das exportações”, aponta a associação.

Preços no mercado

Do dia 17 de março, quando foi deflagrada a operação Carne Fraca, até o dia 12 de abril, o preço da arroba do boi gordo passou de R$ 144,72 para R$ 136,44, uma queda de quase 6%, segundo dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea).
Para o pesquisador do Cepea Sérgio de Zen, o ritmo mais acentuado da queda, verificado neste último mês, está relacionado à operação da Polícia Federal, que afetou a produção de parte dos frigoríficos, principalmente de bovinos.
Zen destaca que existe, nessa época do ano, um fator sazonal, e por isso, uma redução no preço era esperada, mas em um ritmo menor do que o verificado. “Os dois fatores combinados levam a esse tamanho de queda. A expectativa é que a gente não tivesse uma queda tão abrupta”, disse.
“A gente tem uma situação que o mercado espera uma baixa, então qualquer agitação leva a isso mesmo. É esperado que quando se tem uma turbulência haja instabilidade” disse.
De acordo com um relatório do banco BTG Pactual, os revendedores poderão se beneficiar dessa queda de preços do boi. “É importante notar que os preços do gado caíram 3% em março depois que diversas empresas de carne bovina decidiram suspender o abate. Com a normalização da demanda de carne, acreditamos que os revendedores poderão se beneficiar de rápidas recuperações do preço da carne. Já o preço do gado deve demorar mais para se recuperar. Isso corrobora com nossa visão de que as margens das indústrias serão não só preservadas, mas expandidas”, dizem os analistas.
No cenário interno, para especialistas do J.P Morgan, o escândalo não deve ocasionar mudanças significativas aos volumes do setor no Brasil já que a JBS e a BRF detêm, juntas, 2/3 do comércio de carne no Brasil.
“Além disso, nossa análise indica que os revendedores de carne dessas empresas possuem seus próprios sistemas de inspeção e nunca dependeram da inspeção federal, então eles não têm receio de ter comprado carnes estragadas. Acreditamos que essa operação possa, na verdade, estimular a consolidação da indústria de carne no Brasil”, diz o relatório.

Reação à crise

Logo após o início das investigações, empresas citadas na operação divulgaram notas de posicionamento e anunciaram medidas.
A BRF teve uma de suas fábricas interditada pelo Ministério da Agricultura, a de Mineiros (GO). A unidade produz carne de frango e de peru, para exportar e para o mercado interno, e representa menos de 5% da produção total da BRF, segundo a empresa.
O Ministério da Agricultura detectou água em excesso nos frangos produzidos pela unidade, o que foi classificado como um “problema de ordem econômica” pelo secretário executivo do órgão, Eumar Novacki, sem risco à saúde dos consumidores.
Contatada pelo G1, a BRF afirmou que não irá se pronunciar.
Exportação de carnes de frango, bovina e suína, juntas, somaram U$1,34 bilhão, segundo MDIC.  (Foto: REUTERS/Ueslei Marcelino)Exportação de carnes de frango, bovina e suína, juntas, somaram U$1,34 bilhão, segundo MDIC.  (Foto: REUTERS/Ueslei Marcelino)
Exportação de carnes de frango, bovina e suína, juntas, somaram U$1,34 bilhão, segundo MDIC. (Foto: REUTERS/Ueslei Marcelino)
Já a JBS, que é dona das marcas Friboi e Seara e teve um funcionário da unidade de Lapa (PR) citado na investigação, não teve nenhuma fábrica interditada. No entanto, a empresa chegou a suspender o abate por três dias em 33 de suas 36 unidades de produção de bovinos.
Logo em seguida, a empresa retomou a produção nesses locais, porém com uma redução de 35%. Na mesma semana, anunciou férias coletivas em 10 de suas 36 unidades de bovinos: Lins (SP), Naviraí (MS), Nova Andradina (MS), Anastácio (MS), Senador Canedo (GO), Alta Floresta (MT), Juína (MT), Diamantino (MT), Pedra Preta (MT) e Tucumã (PA).
As férias coletivas de 20 dias tiveram início no dia 3 de abril, e podem ser prorrogadas por mais 10. “A medida é necessária em virtude dos embargos temporários impostos à carne brasileira pelos principais países importadores, assim como pela retração nas vendas de carne bovina no mercado interno nos últimos dez dias”, disse a JBS em comunicado.
Ao G1, a JBS afirmou, em nota, que "não compactua com desvios de conduta e tomará todas as medidas cabíveis" e que irá "reforçar seu comprometimento com a qualidade de seus produtos e reitera seu compromisso histórico com o aprimoramento das práticas sanitárias”.
*Sob supervisão de Marina Gazzoni
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