quinta-feira, 20 de julho de 2017

Valério relatou financiamentos para Aécio e desvios de contratos dos Correios para PT e PMDB

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15/05/2017 07:54 horas .

Fonte de informação

G1 globo.com

ÉPOCA NEGÓCIOS

Valério relatou financiamentos para Aécio e desvios de contratos dos Correios para PT e PMDB

Condenado, operador do mensalão fecha acordo de delação com a Polícia Federal
20/07/2017 - 07H39 - ATUALIZADA ÀS 07H43 - POR AGÊNCIA O GLOBO
O publicitário Marcos Valério fecha acordo de delação com a PF (Foto: Arquivo/Agência Brasil)
Depois de ter sua proposta de delação rejeitada pelo Ministério Público Estadual de Minas Gerais (MP-MG), o operador do mensalão Marcos Valério Fernandes fechou um acordo de colaboração premiada com a Polícia Federal (PF). Por citar políticos com foro privilegiado, o acordo aguarda a homologação do Supremo Tribunal Federal (STF). A informação foi antecipada na quarta-feira (19) pelo site do GLOBO.
O delator relatou bastidores de operação para retirar da CPMI dos Correios, em 2005, documentos sobre a relação do Banco Rural com tucanos em Minas, tema que já é alvo de inquérito no STF, motivado por delação do ex-senador Delcídio Amaral. A operação teria contado com a participação dos então subrelatores da CPMI Carlos Sampaio (PSDB-SP) e Eduardo Paes (à época no PSDB-RJ). Integrantes do Banco Rural teriam escondido documentos no Uruguai.
Relação com Aécio desde anos 1990
Em seu acordo, que está sob sigilo, Valério fala também sobre o uso de mecanismos de desvio para PT e PMDB em contratos dos Correios no governo Lula, e de publicidade estatal no governo Aécio Neves em Minas Gerais (2003-2005). Relata também detalhes do que afirma ser o caixa paralelo montado por suas agências de publicidade para operar desvios durante o governo Fernando Henrique Cardoso (1994-2002), em contratos do Banco do Brasil, da Fundacentro e da Eletrobras.
Segundo o delator, valores desviados de contrato dos Correios na gestão petista eram acertados com o então ministro de Comunicações Hélio Costa e o diretor comercial da estatal, Carlos Fioravante. Então chefe da Casa Civil, José Dirceu seria beneficiário de uma mesada de R$ 50 mil.
No acordo, Valério sustenta que suas agências de publicidade participaram do financiamento ilegal da atividade política de Aécio desde os anos 90. Afirma que o tucano recebia 2% do faturamento bruto dos contratos do Banco do Brasil no governo FH, valores que seriam pagos por meio de Paulo Vasconcelos, citado como representante de Aécio junto à empresa.
Valério também sustenta que parte dos recursos desviados da campanha pela reeleição de Eduardo Azeredo (PSDB-MG), em 1998 — no processo que ficou conhecido como mensalão mineiro — abasteceu caixa 2 da campanha de Aécio a deputado federal.
Depoimentos levados ao STF
Os depoimentos de Valério à PF foram gravados e levados ao STF com documentação que supostamente provaria suas alegações. A primeira versão tinha 60 anexos e foi entregue em fevereiro deste ano à Promotoria de Defesa do Patrimônio Público de BH. Na época, o órgão informou não haver interesse em aceitar a delação. Na negociação com a PF, Valério apresentou detalhes sobre desvios operados sob sua influência, ampliando os temas da delação inicial.
O operador cumpria pena de 37 anos de prisão pela ação do mensalão na Penitenciária Nelson Hungria, em Contagem (MG), e foi transferido na segunda-feira para a Associação de Proteção e Assistência a Condenados (Apac), em Sete Lagoas (MG), a pedido da PF. A transferência para a unidade — que propõe atendimento humanizado de presos e tem vagas limitadas — era solicitada desde o ano passado por seus advogados, mas não havia vagas.
O juiz de Contagem Wagner de Oliveira Cavalieri autorizou a transferência e destacou que Valério é “possuidor de inúmeras informações de interesse da Justiça e da sociedade brasileiras”, motivo pelo qual seria “inegável o interesse público em suas declarações sobre fatos ilícitos diversos que envolvem a República”. Segundo ele, “em que pese a existência de formalidades e fila para a transferência de presos para o sistema Apac (...) o interesse público se sobrepõe aos interesses individuais”.
Outro lado
A assessoria de Aécio informou que o senador “jamais participou de qualquer ato ilícito praticado por Valério” e negou que ele tivesse financiado o tucano por meio das agências. Segundo a nota, “é preciso que acusações feitas por delatores sejam sustentadas por provas verdadeiras, sob o risco de servirem, unicamente, para que réus confessos obtenham a impunidade penal”. Advogado de Aécio, Alberto Toron classificou as acusações como “falsas e absurdas” e disse que Aécio interrompeu os contratos com as agências quando o escândalo do mensalão estourou.
Ex-diretor dos Correios, Carlos Fioravanti informou não ter tratado de contratos de marketing. Hélio Costa não foi localizado. O advogado de Dirceu, Roberto Podval, negou os pagamentos e disse que “a credibilidade deste delator é absolutamente vazia”. Eduardo Paes e Carlos Sampaio negaram ter participado de operação para esconder documentos. Segundo Paes, Valério é um “delinquente e safado que conta histórias que ‘ouviu dizer’”. Em viagem à Europa, Fernando Henrique não foi localizado para comentar.
Homologação
A delação de Marcos Valério é a segunda negociada com a Polícia Federal a ser encaminhada ao Supremo Tribunal Federal (STF), que ainda não decidiu se a PF pode firmar acordos de colaboração. Repousa desde o início do ano no gabinete do ministro Edson Fachin, o pedido de homologação da delação do marqueteiro Duda Mendonça, assinada com a Polícia Federal em Brasília.
Ministério Público e PF divergem sobre o tema. A Procuradoria-Geral da República (PGR) reclamou no Supremo considerar a participação da polícia inconstitucional. Para o órgão, cabe ao MP acompanhar a ação penal da investigação até a sentença e, à polícia, cuidar do inquérito. Para os procuradores, apenas o MP pode fazer a acusação criminal e negociar penas.
A PF sustenta que a lei 12.850/2013, que regula as colaborações, prevê a possibilidade de que a polícia firme acordos. Para delegados, trata-se de ferramenta a auxiliar na obtenção de prova e desestruturação de grupo criminoso, um trabalho da polícia. Os envolvidos no acordo de Valério torcem para que o caso seja analisado pela ministra Cármen Lúcia durante o plantão judicial. Ontem, a PGR disse que “não comenta eventuais acordos de colaboração”.
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